SABE, PORVENTURA, O QUE É A EUROPA?
Para desassossego bastava-lhe o seu. Ainda na última assembleia da Associação da Agricultura, o biltre do Zé Botto tivera a desfaçatez de largar uma girândola a favor da industrialização do País, citando exemplos de pequenas nações, cujo peso, dizia ele, se fazia sentir na economia da Europa. Levava o recado estudado por certo grupo financeiro que propagandeava os milagres da sociedade anónima, à sombra da qual enchia as burras, pois muitas delas só tinham realmente realizado uns dois por cento do capital consentido pelo governo e impresso na papelada timbrada com que manejavam créditos bancários. Cortara-lhe o fôlego num aparte: «— Sabe, porventura, o que é a Europa, senhor José Botto?» e o malandrim, embatucado, mas a guizalhar cinismo, respondera-lhe que «mais ou menos atrás do sol-posto».
Alves Redol, "Barranco de Cegos"
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