terça-feira, 31 de janeiro de 2012

A biblioteca (Gonçalo M. Tavares)


A biblioteca
O senhor Juarroz gostava de organizar a sua biblioteca de maneira secreta. Ninguém gosta de revelar segredos íntimos.
O senhor Juarroz primeiro organizara a biblioteca por ordem alfabética do título de cada livro. Rapidamente, porém, foi descoberto.
O senhor Juarroz organizou depois a sua biblioteca por ordem alfabética, mas tendo em conta a primeira palavra de cada livro.
Foi mais difícil, mas ao fim de algum tempo alguém disse: já sei!
A seguir o senhor Juarroz reordenou a biblioteca, mas agora por ordem alfabética da milésima palavra de cada livro.
Há no mundo pessoas muito perseverantes, e uma delas, depois de muito investigar, disse: já sei!
No dia seguinte, assumindo este jogo como decisivo, o senhor Juarroz decidiu arrumar a biblioteca a partir de uma progressão matemática complexa que envolvia a ordem alfabética de uma determinada palavra e o teorema de Godel.
Assim, para estranheza de muitos, a biblioteca do senhor Juarroz começou a ser visitada, não por entusiastas da leitura, mas por matemáticos. Alguns passaram tardes a abrir os livros e a ler certas palavras, utilizando o computador para longos cálculos, tentando assim encontrar a todo o custo a equação matemática que desvendasse a organização da biblioteca do senhor Juarroz. Era, no fundo, um trabalho de descoberta da lógica de uma série, semelhante a 2|9|30|93
Pois bem, passaram dois, três, quatro meses, mas chegou o dia.
Um reputado matemático, completamente vermelho e eufórico, segurando, na mão direita, num bloco gigante coberto de números, disse: já sei!, e apresentou depois a fórmula de progressão da série que baseava a organização da biblioteca.
O senhor Juarroz ficou desanimado e decidiu desistir do jogo.
Basta!
No dia seguinte pediu à sua esposa para organizar a biblioteca como bem entendesse. Por ele estava farto.
Assim foi. Nunca mais ninguém descobriu a lógica da organização da biblioteca do senhor Juarroz.

Gonçalo M. Tavares, in O Senhor Juarroz

segunda-feira, 23 de janeiro de 2012

Prémio Fundação Inês de Castro para Gonçalo M. Tavares


Depois de ter sido distinguido com o Grande Prémio de Romance e Novela da Associação Portuguesa de Escritores e com o Prémio Fernando Namora, o romance "Uma Viagem à Índia" , de Gonçalo M. Tavares, acaba de ganhar o Prémio Fundação Inês de Castro.
Do júri fizeram parte José Carlos Seabra Pereira, Mário Cláudio, Fernando Guimarães, Frederico Lourenço e Pedro Mexia. Fernando Echevarría, de 82 anos, recebe um Tributo de Consagração pelo conjunto da obra literária.
A entrega do prémio será feita a 4 de Fevereiro na Quinta das Lágrimas, em Coimbra.

domingo, 22 de janeiro de 2012

GUIMARÃES, CAPITAL EUROPEIA DA CULTURA EM 2012


Guimarães 2012: "Uma cidade portuguesa, europeia e mundial"

Já começou a Capital Europeia da Cultura. Ao longo de um ano Guimarães é o palco para o encontro entre criadores e criações. Um programa mulltidisciplinar que se assume no panorama nacional e internacional.

Ao longo de um ano, a CEC promove o intercâmbio cultural e a partilha de experiências e ideias para o futuro. Um evento da cidade para o mundo onde as pessoas nunca são esquecidas. Sob o mote "tu fazes parte", Guimarães, em 2012, nas palavras de João Serra, é "uma cidade portugesa, europeia e mundial".

Ver mais em

http://www.guimaraes2012.pt/


quarta-feira, 18 de janeiro de 2012

segunda-feira, 16 de janeiro de 2012

“Para que serve a literatura” ?

http://dererummundi.blogspot.com/2012/01/para-que-serve-literatura-2.html

por Helena Damião

Algumas perguntas formuladas por Antoine Compagnon (na imagem abaixo) que, no presente, se nos impõem em torno da “relevância ou significância” da literatura na vida e, mais especificamente, do seu lugar na escola, “onde os textos documentais invadem o seu espaço, quando não o devoram” (página 20).

Num pequeno, muito pequeno livro, que se pode “ler numa viagem de comboio ou a uma mesa de café” (nota dos coordenadores de edição), este professor de Literatura Francesa Moderna e Contemporânea, entendendo que se deve pensar sobre o assunto, avança várias respostas que me parecem de grande interesse a quem tem responsabilidades educativas.

Inspirando-se em Zola, afirma que “a literatura constitui um exercício de pensamento e experiência de escrita”, que “corresponde a um p
rojecto de conhecimento do homem e do mundo” (página 24).

“Lemos porque, mesmo se ler não é imprescindível para se viver, a vida se torna mais livre, mais clara, mais vasta para aqueles que lêem do que para aqueles que não lêem"
(página 24). "Com a literatura (…) o exemplo substitui a experiência, para inspirar máximas gerais ou, pelo menos, uma conduta em conformidade com tais máximas” (página 31).

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“Ela liberta o indivíduo da sujeição às autoridades, pensavam os filósofos. A literatura é de oposição: ela tem o poder de contestar a submissão ao poder. Enquanto contra-poder, ela revela toda a extensão do seu poder quando é perseguida” (página 32).
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“A literatura, enquanto instrumento de justiça e de tolerância, e a leitura, enquanto experiência de autonomia, contribuem para a liberdade e para a responsabilidade do individuo, valores esses, das Luzes, que presidiram à fundação da escola republicana” (página 31). A “literatura, simultaneamente sintoma e solução do mal-estar na civilização, dota o homem moderno de uma visão que vai além das restrições da vida diária" (página 33).
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O poeta e o romancista dão-nos a conhecer o que estava em nós, mas que ignorávamos por nos faltarem as palavras” (…) “dispõe do poder (…) de desvendar uma verdade não transcendente, mas latente, presente em potência escondida fora da consciência, imanente, singular e até então inexprimível” (página 35-36).
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Por tudo isto e muito mais, Compagnon defende que “urge fazer novamente o elogio da literatura, protegê.-la da depreciação, na escola e no mundo” (… ) Enquanto fonte de inspiração, a literatura ajuda o desenvolvimento da nossa personalidade ou à nossa ‘educação sentimental’ (…) Ela permite aceder a uma experiência sensível e a um conhecimento moral (…). Já que o próprio da literatura é a análise das relações sempre particulares que unem as crenças, as emoções, a imaginação e a acção, ela contém um saber insubstituível, circunstanciado e não resumível acerca da natureza humana, um saber das singularidades” (página 31).
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"A literatura deve, desde logo, ser lida e estudada pelo facto de proporcionar um meio – alguns dirão mesmo o único – de preservar e de transmitir a experiência dos outros, os que estão afastados de nós no espaço e no tempo, ou que divergem de nós pelas condições de vida
.”
.Em suma, remato eu, “a literatura é um exercício de pensamento; a leitura, uma experiência dos possíveis” (…) ela resiste à estupidez não com a violência, mas antes de forma subtil e obstinada" (página 49 e 48).

Referência completa:
- Compagnon, A (2010). Para que serve a literatura? Porto: Deriva Editores.

sábado, 14 de janeiro de 2012

O HOTEL DO INFINITO

A New Scientist TV está a publicar uma série de animações "O Minuto Matemático". Eis o episódio sobre o Hotel Infinito de David Hilbert:

http://dererummundi.blogspot.com/2012/01/o-hotel-do-infinito.html

quinta-feira, 12 de janeiro de 2012

O que é e não é um rosto? Neurocientistas explicam como o cérebro decide o que é real


Objetos parecidos com rostos estão em todo o lado. Desde a face de Jesus numa tortilha ao perfil de Elvis numa batata frita, os nossos cérebros são capazes de detectar imagens que se parecem com rostos. No entanto, o cérebro humano normal quase nunca é enganado em pensar que tais objetos são realmente rostos humanos.

Um novo estudo de investigadores do MIT revela a atividade cerebral subjacente à nossa capacidade de fazer essa distinção. No lado esquerdo do cérebro, o fusiforme gyrus (uma área há muito tempo associada ao reconhecimento de faces humanas) cuidadosamente calcula o quanto uma imagem é parecida com uma cara. O fusiforme gyrus direito surge depois para usar essas informações e tomar uma decisão rápida, categórica se o objeto é, na verdade, um rosto.
Esta distribuição do trabalho é um dos primeiros exemplos conhecidos dos lados esquerdo e direito do cérebro a assumirem papéis diferentes em tarefas de processamento visual de alto nível.

Muitos estudos anteriores mostraram que os neurónios no gyrus fusiforme, localizado na parte inferior do cérebro, reagem preferencialmente às faces. A equipa de cientistas decidiu então investigar como essa região do cérebro decide o que é e não é uma cara, especialmente em casos onde um objeto muito se assemelha a um rosto.

Padrões de actividade diferentes

Para realizar a investigação, os cientistas criaram um contínuo de imagens que incluíam umas que nada se pareciam com caras e outras que eram verdadeiras faces.

Em seguida, a equipa usou ressonância magnética funcional (fMRI) para digitalizar os cérebros dos participantes à medida que categorizavam as imagens. Inesperadamente, os neurocientistas encontraram padrões de actividade diferentes em cada lado do cérebro: do lado direito, os padrões de ativação dentro gyrus fusiforme permaneceram bastante consistentes para todas as imagens do rosto humano verdadeiro, mas mudou drasticamente para todas as imagens que não o eram, independentemente do quanto se assemelhavam a uma cara. Isto sugere que o lado direito do cérebro está envolvido em fazer a declaração categórica se uma imagem é ou não um rosto.

Entretanto, na região análoga do lado esquerdo do cérebro, os padrões de atividade mudaram gradualmente à medida que as imagens se tornavam mais parecidas com caras, e não havia nenhuma divisão clara entre faces verdadeiras e falsas. A partir daí, os investigadores concluíram que o lado esquerdo do cérebro divide as imagens em escalas de quão semelhantes são com rostos, mas sem as atribuir a uma categoria ou outra.

Relações temporais entre dois hemisférios

A chave para a investigação foi a tecnologia de análise de imagens que permitiu que os cientistas pudessem examinar padrões de actividade em toda a gyrus fusiforme.

Os cientistas descobriram que o lado esquerdo faz primeiro o seu trabalho e, em seguida, passa informações para o lado direito. No entanto, esperam obter provas mais sólidas de relações temporais entre os dois hemisférios com estudos utilizando eletroencefalografia (EEG) ou magnetoencephalography (MEG), duas tecnologias que oferecem uma visão muito mais precisa sobre o calendário da atividade cerebral.

Os investigadores do MIT também esperam descobrir como e quando os lados direito e esquerdos do gyrus fusiforme desenvolvem estas funções independentes através do estudo de crianças cegas que têm a visão restaurada numa idade jovem.

http://www.cienciahoje.pt/index.php?oid=52504&op=all

quarta-feira, 11 de janeiro de 2012

CNL - resultados

Face aos resultados das provas ontem realizadas na escola, ficam apurados para a fase distrital os seguintes alunos:
3º ciclo do ensino básico : Inês Miguel Esteves Moreira, Benilde Zita Figueiredo, Mariana Lourenço Cunha;
ensino secundário: João Nolasco ferreira, Teresa Nunes, Maria de Lurdes Marrinhas.
Parabéns a todos, os vencedores e também aos concorrentes (19, no total).

domingo, 8 de janeiro de 2012

CONCURSO NACIONAL DE LEITURA

As provas a nível de escola são já na próxima terça-feira, às 16.50, na sala 12.

sexta-feira, 6 de janeiro de 2012

quinta-feira, 5 de janeiro de 2012

Umberto Eco: "O excesso de informação provoca amnésia"

Excertos de uma entrevista dada pelo escritor italiano ao Jornal "Época", conduzida por Luís Antônio Giron http://profdiafonso.blogspot.com/2011/12/umberto-eco-o-excesso-de-informacao.html

ÉPOCA - O senhor tem sido um dos mais ferrenhos defensores do livro em papel. Sua tese é de que o livro não vai acabar. Mesmo assim, estamos assistindo à popularização dos leitores digitais e tablets. O livro em papel ainda tem sentido?
ECO - Sou colecionador de livros. Defendi a sobrevivência do livro ao lado de Jean-Claude Carrière no volume Não contem com o fim do livro. Fizemos isso por motivos estéticos e gnoseológicos (relativo ao conhecimento). O livro ainda é o meio ideal para aprender. Não precisa de eletricidade, e você pode riscar à vontade. Achávamos impossível ler textos no monitor do computador. Mas isso faz dois anos. Em minha viagem pelos Estados Unidos, precisava carregar 20 livros comigo, e meu braço não me ajudava. Por isso, resolvi comprar um iPad. Foi útil na questão do transporte dos volumes. Comecei a ler no aparelho e não achei tão mau. Aliás, achei ótimo. E passei a ler no iPad, você acredita? Pois é. Mesmo assim, acho que os tablets e e-books servem como auxiliares de leitura. São mais para entretenimento que para estudo. Gosto de riscar, anotar e interferir nas páginas de um livro. Isso ainda não é possível fazer num tablet.
ÉPOCA - Apesar dessas melhorias, o senhor ainda vê a internet como um perigo para o saber?
ECO - A internet não seleciona a informação. Há de tudo por lá. A Wikipédia presta um desserviço ao internauta. Outro dia publicaram fofocas a meu respeito, e tive de intervir e corrigir os erros e absurdos. A internet ainda é um mundo selvagem e perigoso. Tudo surge lá sem hierarquia. A imensa quantidade de coisas que circula é pior que a falta de informação. O excesso de informação provoca a amnésia. Informação demais faz mal. Quando não lembramos o que aprendemos, ficamos parecidos com animais. Conhecer é cortar, é selecionar. Vamos tomar como exemplo o ditador e líder romano Júlio César e como os historiadores antigos trataram dele. Todos dizem que foi importante porque alterou a história. Os cronistas romanos só citam sua mulher, Calpúrnia, porque esteve ao lado de César. Nada se sabe sobre a viuvez de Calpúrnia. Se costurou, dedicou-se à educação ou seja lá o que for. Hoje, na internet, Júlio César e Calpúrnia têm a mesma importância. Ora, isso não é conhecimento.
ÉPOCA - Mas o conhecimento está se tornando cada vez mais acessível via computadores e internet. O senhor não acha que o acesso a bancos de dados de universidades e instituições confiáveis estão alterando nossa noção de cultura?
ECO - Sim, é verdade. Se você sabe quais os sites e bancos de dados são confiáveis, você tem acesso ao conhecimento. Mas veja bem: você e eu somos ricos de conhecimento. Podemos aproveitar melhor a internet do que aquele pobre senhor que está comprando salame na feira aí em frente. Nesse sentido, a televisão era útil para o ignorante, porque selecionava a informação de que ele poderia precisar, ainda que informação idiota. A internet é perigosa para o ignorante porque não filtra nada para ele. Ela só é boa para quem já conhece – e sabe onde está o conhecimento. A longo prazo, o resultado pedagógico será dramático. Veremos multidões de ignorantes usando a internet para as mais variadas bobagens: jogos, bate-papos e busca de notícias irrelevantes.
ÉPOCA - Há uma solução para o problema do excesso de informação?
ECO - Seria preciso criar uma teoria da filtragem. Uma disciplina prática, baseada na experimentação cotidiana com a internet. Fica aí uma sugestão para as universidades: elaborar uma teoria e uma ferramenta de filtragem que funcionem para o bem do conhecimento. Conhecer é filtrar.

quarta-feira, 4 de janeiro de 2012

"AVEIRO JOVEM CRIADOR"

A Exposição “Aveiro Jovem Criador 2011” está patente ao público na Galeria de Exposições Temporárias do Museu de Aveiro, até 15 de Janeiro de 2012, das 10h00 às 17h00, com entrada gratuita.

Hoje é o DIA MUNDIAL DO BRAILLE

domingo, 1 de janeiro de 2012

Das prendas do Natal - "Se eu fosse um livro"

Um livro não é só um conjunto de folhas impressas, agrupadas de forma ordenada. Num livro se esconde todo o mundo. Basta querer desvendá-lo. O livro, esse objecto mágico e cativante que tem a capacidade de mudar as nossas vidas, pode, de facto, fazer-nos seguir um caminho diferente do que tínhamos planeado, revelar-nos o que antes desconhecíamos, ou até fazer parar o tempo enquanto nos perdemos em mundos imaginários.
http://www.youtube.com/watch?v=ShlwXYvZKbM
Texto: José Jorge Letria; Ilustração: André Letria