Este ano assinalam-se os 50 anos da morte de Aquilino Ribeiro, um dos grandes escritores portugueses. Para além de uma escrita notável, empenhado nos aspectos sociais e sensível ao sofrimento dos mais pobres e dos explorados, Aquilino Ribeiro teve uma militância anarquista conhecida na sua juventude, permanecendo sempre muito ligado aos princípios libertários.
Segundo os seus biógrafos, e nunca escondido por ele próprio (nomeadamente nos seus livros mais autobiográficos como “Um Escritor Confessa-se”), foi um homem de acção, esteve preso e foi perseguido, enquanto anarquista, e segundo alguns historiadores, poderá ter estado mesmo ligado ao regicídio de D. Carlos. Os métodos de acção directa não lhe eram estranhos.
A partir de 1902 frequentou o Seminário de Beja, de onde foi expulso em 1904, “depois de ter dado uma réplica cortante a uma acusação do Padre Manuel Ançã, um dos dois irmãos que ao tempo dirigiam a instituição” (1)
Três anos depois, em 1907, com 22 anos de idade, “o rebentamento de caixotes de explosivos guardados na sua casa leva à morte de dois correligionários e a que seja encarcerado na esquadra do Caminho Novo, de onde se evade em situações rocambolescas, como se pode ler no volume de memórias antes mencionado”.(1)
Evade-se da prisão a 12 de Janeiro de 1908 e durante a clandestinidade em Lisboa mantém os contactos com os regicidas, refugiado, na Rua Nova do Almada, em frente da Boa Hora.
Homem de acção, depois de estar algum tempo na clandestinidade, foge para Paris, de onde regressa em 1914.
Participa na revolta de 7 de Fevereiro de 1927, em Lisboa. Exila-se em Paris. No fim do ano regressa a Portugal, clandestinamente, participando na revolta de Pinhel. Encarcerado no presídio de Fontelo (Viseu), evade-se e volta a Paris. Em Lisboa é julgado à revelia em Tribunal Militar, e condenado.
Regressa posteriormente a Portugal, onde morre a 27 de Maio de 1963, quando se comemoravam os 50 anos da sua actividade literária . Na ocasião estavam-lhe a ser feitas homenagens em várias cidades do país. Nessa mesma hora, a Censura comunicava aos jornais não ser mais permitido falar das homenagens que lhe estavam a ser prestadas.
Em 2007, por entre muitos protestos dos sectores mais reaccionários da sociedade portuguesa, a Assembleia da República decidiu homenagear a sua memória e conceder aos seus restos mortais as honras de Panteão Nacional (2). Na frieza da Igreja de Santa Engrácia, se os mortos falassem, Aquilino Ribeiro talvez só pudesse ter uma conversa decente com o velho Guerra Junqueiro, cujos ossos também ali repousam.
Nos seus livros a luta pela liberdade é sempre uma constante e uma das suas obras primas “Quando os Lobos Uivam”, que esteve proibido durante o fascismo, é um verdadeiro hino à insubmissão e, por todo ele, perpassa um halo libertário de apelo à revolta e à transformação social.
Aquilino Ribeiro foi um vulto grande do pensamento social, anarquista militante em várias fases da sua vida, para além de um enorme escritor e intelectual, como o foram aliás grandes vultos da sociedade portuguesa do século passado, muito influenciados pelas ideias libertárias até ao fim das suas vidas: os escritores e jornalistas Ferreira de Castro (1898 – 1974) e Jaime Brasil (1896 – 1966); o filósofo Leonardo Coimbra (1883-1936) ou o cientista Aurélio Quintanilha (1892 – 1987), entre muitos outros.
Útil também a consulta de: http://vidanovazores.blogspot.pt/2007/09/aquilino-ribeiro-com-ou-sem-panteo-o.html
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