"Um homem a escrever pode virar o mundo para onde quer. No código certo de letras atrás de letras está tudo o que se conhece, passado, futuro e o presente como deve ser. Um exército venceu uma batalha porque está escrito num livro, um homem morreu, um império caiu, um deus veio à terra. O homem é palavra, o império é palavra, o exército e deus e tudo são palavras inventadas quando a gente se fez gente."
( Nuno Camarneiro, “No meu peito não cabem pássaros”, p. 93)
“Viver num sítio é ser esse sítio, emprestar-lhe uma alma e receber outra em troca. As biografias deviam ordenar-se por lugares, e não por datas. Nesta rua fui assim, numa outra fui diverso. Ninguém sabe descrever uma cidade, são as cidades que nos escrevem a nós.”
(Nuno Camarneiro, “No meu peito não cabem pássaros”, p. 31)
“Quando um achador de terras se cansa de procurar caminhos, resta-lhe desistir ou abrir uma estrada nova, assim com os seus avós, assim consigo mesmo. Por uma estrada inventada chega-se a qualquer lugar e por palavras escritas chega-se a qualquer vida em qualquer época. Começa-se devagar, com descrença, e vai-se andando encostado ao desespero até que as palavras visitem os sonhos e tomem conta deles. Primeiro uma vida, depois outras que a suportem e justifiquem. Vidas ao lado e vidas antigas, vidas que hão de vir e outras que nunca chegaram a ser. Todas fazem falta, todas servem.”
(Nuno Camarneiro, “No meu peito não cabem pássaros”. p. 181)
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