quarta-feira, 1 de fevereiro de 2012

FERNANDO ASSIS PACHECO faria hoje 75 anos

«1 de Fevereiro de 1937. Veio ao mundo, para o provocar e descompor, Fernando Santiago Mendes de Assis Pacheco. Nascida num rés‑do‑chão da Rua Guerra Junqueiro, número 118, cidade de Coimbra, a criatura trazia, no projecto de homem que ainda era, duas geografias bem distintas e distantes inscritas no mapa familiar. O avô materno, Santiago Doallo Álvarez, era um galego da aldeia de Melias, Ourense. O paterno — também Fernando, também Assis, também Pacheco — havia sido, durante décadas, roceiro em Nova Olinda, São Tomé.
Ambos marcaram o petiz, mais tarde empenhado em refazer os roteiros familiares através da criação literária. As raízes galegas ficaram, sabemo‑lo, consagradas no célebre Trabalhos e Paixões de Benito Prada, assumidamente banhado em ambiente camiliano. O romance sobre o avô de São Tomé começou a ser escrito mas, com a morte prematura de Assis Pacheco, ficou, pelo interesse da história (a revelar adiante), à espera de ser reinventado por outra mão da família.»

[in Trabalhos e Paixões de Fernando Assis Pacheco, de Nuno Costa Santos, Tinta da China, 2012]

COM A TUA LETRA

Porque eu amo-te, quer dizer, estou atento
às coisas regulares e irregulares do mundo.
Ou também: eu envio o amor
sob a forma de muitos olhos e ouvidos
a explorar, a conhecer o mundo.

Porque eu amo-te, isto é, eu dou cabo
da escuridão do mundo.
Porque tudo se escreve com a tua letra.

[in A Musa Irregular, ASA, segunda edição, 1996]

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