quarta-feira, 28 de dezembro de 2011

Comunidade monástica ecuménica Taizé leva “love parade” cristã a Berlim, com 30 mil jovens para derrubar outros muros

O Muro de Berlim caiu em 1989, permitindo a reunificação alemã, mas permanecem outros muros por deitar abaixo. A partir desta quarta-feira, 30 mil jovens invadem a capital alemã numa espécie de “love parade” de jovens cristãos. A ideia é ajudar a derrubar muros de outro género, convocados pela comunidade de monges de Taizé (França), que reúne católicos e protestantes.
“Há muros não apenas entre povos e continentes, mas também muito perto de nós e até dentro do coração humano”, escreve o prior de Taizé, o irmão Aloïs, na carta Rumo a uma nova solidariedade que, até dia 1 de Janeiro, será debatida pelos participantes do encontro. “Pensemos nos preconceitos entre povos diferentes. Pensemos nos imigrantes, tão perto e todavia frequentemente tão distantes. Entre religiões permanece uma ignorância recíproca e os próprios cristãos estão separados em múltiplas confissões”, acrescenta o texto, disponível no site oficial da comunidade.

É a primeira vez que Taizé vai a Berlim para um destes encontros do que a comunidade designa como “peregrinação de confiança através da terra” – e que passou por Lisboa em 2004. A Alemanha é um dos países mais representados nos encontros em Taizé: “Ter um encontro europeu na capital do país tornava-se cada vez importante. Ainda por cima sendo Berlim a cidade simbólica que é, com marcas históricas de separação, divisão e reconciliação”, diz ao PÚBLICO o irmão David, responsável pelos contactos com os media e o único português da comunidade.

Há, no entanto, uma pré-história deste encontro: desde 1961, quando o Muro de Berlim foi construído, os irmãos de Taizé multiplicaram as visitas à parte Leste, sob o domínio comunista. E em 1986, o fundador da comunidade, o irmão Roger Schutz, visitou a cidade para um encontro de jovens, com uma oração simultânea numa igreja católica e outra protestante. Foi necessário garantir às autoridades que não haveria jovens ocidentais a rezar no meio dos seis mil berlinenses de Leste. “Pessoas que viveram esse encontro há 25 anos, jovens nessa altura, foram apoios fundamentais na preparação do encontro que agora começa”, diz o irmão David.

Os 30 mil participantes (entre os quais 400 portugueses) serão acolhidos, por estes dias, em famílias da cidade e arredores. “Muitas famílias que habitualmente não vão às igrejas sentiram-se interpeladas pela iniciativa e vão acolher jovens durante o encontro, dando uma imagem de hospitalidade, mas também de abertura a uma iniciativa religiosa e, quem sabe, a uma busca espiritual”, acrescenta o monge português. Ontem mesmo, muitas famílias sem prática religiosa continuavam a inscrever-se para acolher jovens, contava o irmão David.

Orações, debates e manifestações artísticas

Durante os dias do encontro, os participantes terão tempos de oração nas 150 paróquias protestantes e católicas da cidade de manhã; ao início e ao final da tarde concentram-se nos pavilhões do parque de exposições de Berlim. As orações das 18h serão transmitidas em directo através do site.

O programa completa-se com debates sobre questões sociais, económicas e políticas, manifestações artísticas e religiosas. Nele se incluem uma reflexão bíblica partilhada por uma rabina judia e um monge de Taizé com membros da comunidade judaica; uma visita a uma mesquita e um debate com muçulmanos; um encontro com refugiados e um outro com deputados do Bundestag, o Parlamento federal, sobre a participação dos cidadãos na política – na carta do irmão Aloïs lê-se que é preciso “escutar os jovens que expressam a sua indignação” perante a pobreza e a injustiça, tentando “compreender as suas motivações essenciais”.

Várias personalidades – entre as quais o Papa Bento XVI, o secretário-geral da ONU, Ban Ki Moon, e a chanceler alemã, Angela Merkel – enviaram mensagens aos participantes, também disponíveis no site de Taizé. O Papa escreve que, “perante a pobreza e as injustiças, numerosos jovens deixam-se ganhar pela revolta, pelo desespero ou mesmo pela violência”, mas eles precisam “da paz” que se encontra na fé.

IN http://www.publico.pt/Mundo/

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