quarta-feira, 6 de outubro de 2010

A Educação e o ideário da República

Nas literaturas vivem todos os sonhos e aspirações humanas. Todas as experiências de sentimento aí aparecem: a curiosidade nova, o amor, o enternecimento, a audácia.

A alma arrastada para a rigidez e secura das abstracções científicas precisa tomar contacto com a vida real, se sorrisos e lágrimas, de amor e sofrimento, de dedicações e heroísmo. Que monstruoso homem esse que aí passa ruminando fórmulas e esquecendo a vida!

Se dá alegria e facilidade intelectual saber classificar uma planta, quanto mais não vale poder sentir-lhe a beleza, o inebriamento de perfume, adivinhar-lhe o sentido oculto, as palpitações intranhas!

E tudo isto é economicamente inútil, mas tudo isto é moralmente sublime.

A educação deve dar o homem a si mesmo, envolvendo-o de claridade interior; dá-lo à família pelo enternecimento, à humanidade pelo amor, ao Universo pelo deslumbramento e pelo sacrifício. Partindo de si, o homem deve abraçar todo o Universo.
Ser boca onde todas as dores venham cantar; olhos onde todos os sofrimentos venham chorar lágrimas de piedade e ternura universais.


Leornardo Coimbra, "Obras Completas", I, tomo I, Lisboa, INCM, 2004 (publicado em A Águia, Porto, ano I, 1ª série, nº1, 1 de Dezembro de 1910).


http://www.iplb.pt/sites/DGLB/Portugues/noticiasEventos/Paginas/exposicaorepublica2010.aspx

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