[…] Quatro quintas partes do povo português não sabem ler nem escrever, quer dizer: sabem falar incompletissimamente. A palavra escrita é imprescindível para a vida social moderna. Actualmente ela é o instrumento usual mais importante da sociabilidade. Na complexidade da vida de hoje, o homem que não sabe ler e escrever é um homem incompleto, desarmado para a luta do pão quotidiano. É nestas lastimosas condições de inferioridade social que se encontra a maioria da população portuguesa. Incapaz de receber e transmitir ideias e sentimentos, o cérebro da grande massa da sociedade portuguesa, em virtude daquele impiedoso princípio lamarckiano que condena à morte o órgão que não trabalha, definha-se, atrofia-se, lenhifica-se, e a alma portuguesa estagna na tranquilidade morta das águas paludosas. Acrescente-se a esta lenta agonia do espírito nacional a influência corruptora e secular da educação jesuítica, sinistra e deprimente, e a única coisa que espanta verdadeiramente é a pasmosa resistência deste desgraçado povo que tudo tem sofrido e que ainda não sucumbiu totalmente ao peso do seu mau destino. […]
Manuel Laranjeira, "O Pessimismo Nacional", Lisboa, Frenesi, 2009 (publicado em O Norte, 7 de 1908)
http://www.iplb.pt/sites/DGLB/Portugues/noticiasEventos/Paginas/exposicaorepublica2010.aspx
quinta-feira, 7 de outubro de 2010
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