sábado, 13 de fevereiro de 2010

Agostinho da Silva nasceu há 100 anos

Foi na sua cidade natal, o Porto, que Georges Agostinho Silva fez o essencial da sua educação escolar, desde a primária até à licenciatura (com 20 valores) em Filologias Clássicas e Românicas, na Faculdade de de Letras, poucos anos antes fundada por Leonardo Coimbra. Passou os primeiros anos da sua vida em Barca d´Alva. Estudou em Paris. Leccionou no
LICEU NACIONAL DE AVEIRO (actual Escola Secundária José Estêvão)
, onde se recusou a assinar a Lei Cabral que obrigava todos os funcionários públicos à declaração de não participação em qualquer sociedade ou instituição secreta ou "subversiva" considerada atentatória contra o regime. Impedido de ser professor na escola pública, deu aulas privadas (Mário Soares e Manoel de Oliveira foram alguns dos seus alunos), colaborou em revistas literárias, criou o Núcleo Pedagógico Antero de Quental em 1939, fundou em 1940 os Cadernos de Informação Cultural. Passou pelos calabouços da PIDE, no Aljube, após o que se fixou no Brasil de onde regressou a Portugal em 1969. Livre pensador, filósofo, professor toda a vida, morreu em 1996.


Agostinho da Silva é dos mais paradoxais pensadores portugueses do século XX. O tema mais candente da sua obra foi a cultura de língua portuguesa, num fraternal abraço ao Brasil e aos países lusófonos. Todavia, a questão das filosofias nacionais não é para si decisiva, parecendo-lhe antes uma questão académica: «Não sei se há filosofias nacionais, e não sei se os filósofos, exactamente porque reflectem sobre o geral, se não internacionalizam desde logo».
(...)
Segundo ele, seria possível valorizar aquilo que a seu ver nos distinguiria como povo e como cultura: um povo e uma cultura capazes de albergar em si «tranquilamente, variadas contradições impenetráveis, até hoje, ao racionalizar de qualquer pensamento filosófico».

Império do futuro precavido e purgado dos males que arruinaram os quatro anteriores, sem manias de mando, ambições de ter e de poder, sem trabalho obrigatório, sem prisões e sem classes sociais, sem crises ideológicas e metafísicas. Esse já não era o império europeu, dessa Europa ávida de saber e de poder, e por isso esgotada como modelo para os outros 80% da humanidade, menos ávida de poder e mais preocupada com o ser.

Trazer por isso o mundo à Europa, como outrora levámos a Europa ao mundo, tal a missão da cultura de língua portuguesa, construindo o seu domínio com uma base espiritual e sem base em terra, porque a propriedade escraviza e só não ter nos torna livres.


(Fonte "Público", P2 e http://cvc.instituto-camoes.pt/filosofia/1910h.html)

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