sexta-feira, 20 de fevereiro de 2009

Há 100 anos, pubicação do Manifesto do Futurismo


"Afirmamos que o esplendor do mundo foi enriquecido com uma beleza nova: a beleza da velocidade. Um automóvel de corrida, com a sua carroceria adornada de grandes tubos semelhantes a serpentes de bafo explosivo... um automóvel rugidor que parece correr sobre metralha é mais belo do que a Vitória de Samotrácia." Foi exactamente há cem anos (20 de Fevereiro de 1909) que o jornal francês Le Figaro publicou estas palavras do escritor italiano Filippo Tommaso Marinetti. Compõem o quarto artigo do seu célebre Manifesto do Futurismo, que Fernando Pessoa evocará, via Álvaro de Campos, no poema em que afirma que o Binómio de Newton é mais belo do que a Vénus de Milo.
Mas, para lá desta passagem, motivada pelo desejo de levar a ensonada Itália a acompanhar o fervilhante progresso técnico das grandes metrópoles europeias do tempo, o manifesto incluía artigos bastante mais controversos: o nono, por exemplo, glorificava expressamente a guerra - "única higiene do mundo" - e promovia o "desprezo pela mulher". O seguinte apelava à "destruição dos museus, bibliotecas e academias". Não admira que Marinetti se tenha aproximado dos fascistas, como muitos dos primeiros adeptos do movimento.
Se, na pintura, o futurismo propriamente dito produziu obras de grande relevância, é mais duvidoso que o tenha feito na literatura. Não teve também, como figura de referência, um escritor de genuíno talento, como o surrealismo iria ter com Breton. No entanto, é com o futurismo que se inicia essa sucessão de movimentos de vanguarda que irão procurar fazer tábua rasa da arte do passado. Nesse sentido, é verdadeiramente com este manifesto que nasce a arte do século XX.


L.M.Q. IN P2 - 20.02.2009

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