É uma velha paixão que traz de novo a Lisboa o cantor italiano Mariano Deidda. E essa paixão chama-se Fernando Pessoa. Desde que o descobriu, a partir de uma tradução de António Tabucchi para a Feltrinelli (Il Poeta è un Fingitore), que Deidda não parou de o cantar, sobretudo em Itália. Nascido na Sardenha, Deidda já gravou três discos a partir dessa obra poética que tanto o fascina: Deidda Interpreta Pessoa (2001), Nel Mio Spazio Interiore (2003) e L"Incapacità di pensare (2005), que completa a trilogia.
Mas a sua carreira musical começa antes, em 1992, com Canzoni per Ricominciare, seguindo-se mais tarde L"Era dei Replicanti (1998), onde homenageava o celebrado folk-singer inglês Nick Drake (1948-1974). Foi depois da sua passagem pela Expo "98 que deu início ao trabalho em torno da poesia de Fernando Pessoa, que ele considera "um homem extremamente projectado no futuro" e para lá do seu próprio tempo. Nesses discos, Mariano Deidda fez-se rodear de excelentes músicos, como o trompetista Enrico Rava, o acordeonista Gianni Coscia ou o contrabaixista Miroslav Vitous, três figuras de primeira linha do jazz europeu. O disco de estreia da trilogia de Pessoa contou ainda com a participação da cantora cabo-verdiana Celina Pereira, em Misteriosa Orchestra.
O mais recente disco de Deidda, Rosso Rembrandt, é dedicado à poesia da escritora italiana Grazia Deledda, como ele nascida na Sardenha (1871-1936) e distinguida com o Nobel da Literatura em 1926. Nele, Deidda volta a mesclar o universo dos cantautore com o do jazz, tendo agora como convidado o histórico trompetista Kenny Wheeler.
Mas é Fernando Pessoa que o traz a Portugal. O poeta onde ele vislumbrou um dia "uma mentalidade ultramoderna, perfeita na métrica." O poeta que "tinha uma alma musical" e do qual ele se tornou embaixador itinerante e apaixonado, na Itália e fora dela. Com Mariano Deidda (voz) estarão em palco Silvia Cucchi (piano), Luca Zanetti (acordeão), Saverio Miele (contrabaixo) e Diego Mascherpa (saxofone e clarinete).
31.01.2008, Nuno Pacheco - IN jornal "Público", P2,
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