A BIBLIOTECA ESCOLAR
Num passado recente, a Biblioteca Escolar (BE) era um arquivo de livros e periódicos fechados à chave, cuidadosamente guardados, mais ou menos acessíveis aos utilizadores. Era também um local de silêncio absoluto, vetusto, monástico, vedado a quaisquer outras actividades que não fossem a leitura e a pesquisa de obras. A sua organização espacial e operacional, a sua estrutura hierárquica eram determinadas por um regimento ou regulamento interno rígidos, centralistas, estáticos e pouco favoráveis à mudança. O acesso era restrito quer em termos de horário de funcionamento quer de público, dos espaços e dos equipamentos, entre outros. A ênfase organizacional era colocada na gestão do acervo documental e o “trabalho” desenvolvia-se com base nos serviços prestados e nos recursos disponibilizados (livros e alguns periódicos exclusivamente ligados às matérias curriculares e aos conteúdos programáticos).
Do ponto de vista pedagógico-didáctico, não existia uma preocupação relevante nem uma articulação com as actividades da escola. Por outro lado, o pessoal raramente tinha uma formação especializada, sendo o Director da Biblioteca ou o Director das Instalações, conforme o caso, escolhido entre o quadro docente, normalmente nos grupos de Letras ou Humanidades e já em fim de carreira.
O acervo era determinado pelas escolhas dos Delegados de Grupo (pós-25 de Abril de 74) ou, mais recentemente, pelos Coordenadores de Departamento.
Actualmente, a gestão da BE, de qualquer biblioteca, está muito para além da gestão de fundos documentais: nela coexistem diversificados suportes de informação – CD de música, CD-ROM, DVD, livros, periódicos, acesso à Internet - que implicam outras formas de gerir espaços, relações, aprendizagens.
O Manifesto da IFLA para as BE, de 1999, estabeleceu um conceito mais moderno e actual baseado nas premissas de “competências para a aprendizagem”, articulados com os “manuais escolares e matérias e metodologias de ensino”. Há, portanto, neste conceito duas noções modernas: a “aprendizagem” e o “ensino”, supondo uma relação dinâmica, bidireccional e justaposta. A BE integra-se, pois, no Projecto Educativo da escola e assume um papel primordial, senão central, uma vez que é o espaço articulador das competências e lhe cabe promover o ensino-aprendizagem. À BE compete ainda munir os jovens das competências tecnológicas, de leitura, de manuseamento e partilha da informação, as quais constituem hoje condição incontornável na formação para a cidadania.
A fim de levar a termo este papel, a BE necessita de ser parceira do Projecto Educativo e do Projecto Curricular de Escola, devendo integrar-se transversalmente no Currículo e, por extensão, no Plano Anual de Actividades da Escola. Este papel, assim assumido, passa pela maior interacção entre a BE e o Conselho Executivo, o Conselho Pedagógico, os Departamentos, os Conselhos de Turma, os Docentes e a Comunidade Educativa em geral.
Deste modo, os objectivos enunciados no Manifesto da International Federation of Library Associations (IFLA) “essenciais ao desenvolvimento da literacia, das competências de informação”, que “ correspondem aos serviços básicos da biblioteca escolar”, podem ser materializados em actividades mais específicas, que envolvam toda a escola e, principalmente, os docentes, não descurando a gestão intermédia e a gestão de topo, assumindo-se como a porta de acesso ao vasto mundo da informação e do conhecimento.
Assim, tendo em conta os objectivos a alcançar e os planos a cumprir, configura-se, a título meramente exemplificativo, a colaboração da BE nas seguintes actividades:
-levantamento de oportunidades de colaboração com os departamentos, clubes, projectos, etc.;
-organização do apoio da BE nas Áreas de Projecto e Estudo Acompanhado;
-produção de materiais didácticos e de apoio (impressos, digitais, multimédia);
-análise da articulação da BE com os programas curriculares e projectos em curso, de modo a determinar as competências de informação que podem ser desenvolvidas na BE, na sala de aula ou noutros espaços escolares;
-cooperação no desenho e execução de um programa de fomento de competências de leitura e escrita;
-promoção da formação (tipologias diversas) dos docentes em competências de leitura e de informação;
-estímulo à formação autónoma na BE, sugerindo técnicas de investigação, de consulta e de trabalho quer individual quer cooperativo.
Aos docentes cabe também um papel importante na relação Escola/BE, uma vez que são simultaneamente actores e espectadores no palco que a BE também deve ser. A sua colaboração pode estender-se a outras actividades (a lista não é exaustiva) tão relevantes como: divulgar os recursos da BE junto dos alunos, de modo a promover a sus utilização autónoma; acompanhar os alunos à BE; participar na organização conjunta de actividades de leitura e animação pedagógica na BE; motivar os alunos para a frequência da BE; incluir a BE nas suas actividades curriculares e de complemento curricular; apoiar a BE no processo de recolha, selecção e tratamento da informação, …
A gestão intermédia e a de topo, na Escola, devem igualmente contribuir para o sucesso da BE, cabendo-lhes o papel de facilitadores em diferentes vertentes. A estes elementos estão reservadas competências como a criação de condições organizacionais da BE (gestão dos espaços, atribuição de horas e créditos horários), procedimentos administrativos (verbas, equipamentos, pessoal), a salvaguarda de uma utilização flexível e adequada da BE, a mobilização de apoios e recursos externos e, de importância relevante, a liderança e o apoio no envolvimento dos docentes, através de acções de informação, sensibilização e formação eventualmente centradas na própria biblioteca.
A BE é uma construção diária que deve envolver toda a escola.
José Caseiro – Coordenador da BE-CRE
UNESCO.IFLA. Manifesto da Biblioteca Escolar: a biblioteca escolar no contexto do ensino aprendizagem para todos. [Lisboa]: Ministério da Educação. Gabinete da Rede de Bibliotecas Escolares, cop. 2000.
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