segunda-feira, 31 de março de 2008

Nouvel, o arquitecto da luz e das transparências, é o novo Pritzker



Jean Nouvel, o "Arquitecto Camaleónico", aos 62 anos, o autor do Instituto do Mundo Árabe de Paris, torna-se no 32º vencedor do mais importante prémio de arquitectura do mundo.
Di-lo com a transparência que é a marca da sua obra: "O papel do arquitecto na sociedade é agir como intérprete dos seus movimentos. Escutando as suas tendências, mutações históricas, culturais, sociais e ambientais, a sua missão é transcrevê-las para uma linguagem poética."Aos 62 anos, Jean Nouvel, que em 1987 se tornou conhecido pelo edifício do Instituto do Mundo Árabe, em Paris, é o vencedor da trigésima edição do Pritzker, o mais importante prémio de arquitectura do mundo. A cerimónia de entrega do prémio (100 mil dólares, ou seja, 63,3 mil euros) é só no dia 2 de Junho, na Biblioteca do Congresso, em Washington, mas o júri já justificou a sua escolha. Ontem, em Los Angeles, Thomas J. Pritzker, leu a partir da acta: "Entre as muitas frases que poderiam descrever a carreira de Jean Nouvel, estão as que enfatizam a sua coragem e o desafiar de normas estabelecidas. O júri reconheceu a persistência, imaginação, exuberância e, sobretudo, a insaciável necessidade de experimentação do trabalho de Nouvel." O premiado, desde que se estabeleceu na Paris dos anos 1970, como assistente de Claude Parent e Paul Virilio, tem procurado "novas abordagens aos problemas convencionais da arquitectura". Nouvel reagiu, explicando à Reuters estar "feliz por passar a pertencer ao clube de bons amigos como Frank Gehry, Renzo Piano e Zaha Hadid". Gehry, vencedor em 1989, Renzo Piano (1998) e Zaha Hadid (2004) estão numa lista de agora 32 distinguidos de que faz parte apenas um português: Álvaro Siza Vieira, premiado em 1992. Nouvel é apenas o segundo francês - depois de Christian de Portzamparc, em 1996. Tendo desenvolvido a parte mais significativa da sua obra na Europa, e estando alguns dos seus mais emblemáticos edifícios em Paris [o Instituto do Mundo Árabe,mas também a etérea sede da Fundação Cartier (1994) e o Museu de Branly (2006), por exemplo], Nouvel tem projectos para mais de 200 países, incluindo Portugal (ver caixa). Autor da Ópera de Lyon (1993), da Torre Agbar de Barcelona (2005), e com projectos como a Tour Verre, um edifício de 75 andares para Nova Iorque, Nouvel é conhecido pelo seu trabalho de luz e transparências. Costuma dizer que gosta de brincar com o reflexo das nuvens e da vegetação: "Estes jogos de luz e profundidade de campo existem para fazer perguntas sobre a pertinência do edifício neste mundo."Inspirado pelas catedrais e igrejas dos séculos XI e XII, o desejo de Nouvel "é sempre fazer um projecto cheio de simplicidade, delicadeza, profundidade. Projectos que mantenham o espírito da sua localização, o desejo das pessoas, da cidade, do campo, dos edifícios que vieram antes dele".

31.03.2008, Vanessa Rato, In "Público"

Nouvel, o arquitecto da luz e das transparências, é o novo Pritzker

31.03.2008, Vanessa Rato
Aos 62 anos, o autor do Instituto do Mundo Árabe de Paris, torna-se no 32º vencedor do mais importante prémio de arquitectura do mundo
Di-lo com a transparência que é a marca da sua obra: "O papel do arquitecto na sociedade é agir como intérprete dos seus movimentos. Escutando as suas tendências, mutações históricas, culturais, sociais e ambientais, a sua missão é transcrevê-las para uma linguagem poética."Aos 62 anos, Jean Nouvel, que em 1987 se tornou conhecido pelo edifício do Instituto do Mundo Árabe, em Paris, é o vencedor da trigésima edição do Pritzker, o mais importante prémio de arquitectura do mundo. A cerimónia de entrega do prémio (100 mil dólares, ou seja, 63,3 mil euros) é só no dia 2 de Junho, na Biblioteca do Congresso, em Washington, mas o júri já justificou a sua escolha. Ontem, em Los Angeles, Thomas J. Pritzker, leu a partir da acta: "Entre as muitas frases que poderiam descrever a carreira de Jean Nouvel, estão as que enfatizam a sua coragem e o desafiar de normas estabelecidas. O júri reconheceu a persistência, imaginação, exuberância e, sobretudo, a insaciável necessidade de experimentação do trabalho de Nouvel." O premiado, desde que se estabeleceu na Paris dos anos 1970, como assistente de Claude Parent e Paul Virilio, tem procurado "novas abordagens aos problemas convencionais da arquitectura". Nouvel reagiu, explicando à Reuters estar "feliz por passar a pertencer ao clube de bons amigos como Frank Gehry, Renzo Piano e Zaha Hadid". Gehry, vencedor em 1989, Renzo Piano (1998) e Zaha Hadid (2004) estão numa lista de agora 32 distinguidos de que faz parte apenas um português: Álvaro Siza Vieira, premiado em 1992. Nouvel é apenas o segundo francês - depois de Christian de Portzamparc, em 1996. Tendo desenvolvido a parte mais significativa da sua obra na Europa, e estando alguns dos seus mais emblemáticos edifícios em Paris [o Instituto do Mundo Árabe,mas também a etérea sede da Fundação Cartier (1994) e o Museu de Branly (2006), por exemplo], Nouvel tem projectos para mais de 200 países, incluindo Portugal (ver caixa). Autor da Ópera de Lyon (1993), da Torre Agbar de Barcelona (2005), e com projectos como a Tour Verre, um edifício de 75 andares para Nova Iorque, Nouvel é conhecido pelo seu trabalho de luz e transparências. Costuma dizer que gosta de brincar com o reflexo das nuvens e da vegetação: "Estes jogos de luz e profundidade de campo existem para fazer perguntas sobre a pertinência do edifício neste mundo."Inspirado pelas catedrais e igrejas dos séculos XI e XII, o desejo de Nouvel "é sempre fazer um projecto cheio de simplicidade, delicadeza, profundidade. Projectos que mantenham o espírito da sua localização, o desejo das pessoas, da cidade, do campo, dos edifícios que vieram antes dele".

31.03.2008, Vanessa Rato, In

quinta-feira, 27 de março de 2008

27 de Março, dia Mundial do Teatro

O ACTOR

O actor acende a boca.
Depois os cabelos.
Finge as suas caras nas poças interiores.
O actor pôe e tira a cabeçade búfalo.
De veado.
De rinoceronte.
Põe flores nos cornos.
Ninguém ama tão desalmadamente
como o actor.
O actor acende os pés e as mãos.
Fala devagar.
Parece que se difunde aos bocados.
Bocado estrela.
Bocado janela para fora.
Outro bocado gruta para dentro.
O actor toma as coisas para deitar fogo
ao pequeno talento humano.
O actor estala como sal queimado.
O que rutila, o que arde destacadamente
na noite, é o actor,
com uma voz pura monotonamente batida
pela solidão universal.
O espantoso actor que tira e coloca
e retirao adjectivo da coisa, a subtilezada forma,
e precipita a verdade.
De um lado extrai a maçã com sua
divagação de maçã.
Fabrica peixes mergulhados na própria
labareda de peixes.
Porque o actor está como a maçã.
O actor é um peixe.
Sorri assim o actor contra a face de Deus.
Ornamenta Deus com simplicidades silvestres.
O actor que subtrai Deus de Deus, e
dá velocidade aos lugares aéreos.
Porque o actor é uma astronave que atravessa
a distância de Deus.Embrulha. Desvela.
O actor diz uma palavra inaudível.
Reduz a humidade e o calor da terraà confusão dessa palavra.
Recita o livro. Amplifica o livro.
O actor acende o livro.
Levita pelos campos como a dura água do dia.
O actor é tremendo.
Ninguém ama tão rebarbativamente como o actor.
Como a unidade do actor.
O actor é um advérbio que ramificoude um substantivo.
E o substantivo retorna e gira,
e o actor é um adjectivo.
É um nome que provém ultimamente do Nome.
Nome que se murmura em si, e agita,e enlouquece.
O actor é o grande Nome cheio de holofotes.
O nome que cega.
Que sangra.
Que é o sangue.
Assim o actor levanta o corpo,enche o corpo com melodia.
Corpo que treme de melodia.
Ninguém ama tão corporalmente como o actor.
Como o corpo do actor.
Porque o talento é transformação.
O actor transforma a própria acção
da transformação.
Solidifica-se. Gaseifica-se. Complica-se.
O actor cresce no seu acto.Faz crescer o acto.
O actor actifica-se.
É enorme o actor com sua ossada de base,
com suas tantas janelas,as ruas -o actor com a emotiva publicidade.
Ninguém ama tão publicamente como o actor.
Como o secreto actor.Em estado de graça. Em compactoestado de pureza.
O actor ama em acção de estrela.
Acção de mímica.
O actor é um tenebroso recolhimento
de onde brota a pantomina.
O actor vê aparecer a manhã sobre a cama.
Vê a cobra entre as pernas.O actor vê fulminantemente
como é puro.
Ninguém ama o teatro essencial como o actor.
Como a essência do amor do actor.
O teatro geral.
O actor em estado geral de graça.

HERBERTO HÉLDER

sexta-feira, 14 de março de 2008

Em louvor das bibliotecas


"(...) Com o progresso das tecnologias da informação, as bibliotecas mudaram muito nos últimos 18 anos. Agora são também virtuais. (...) Mas as bibliotecas não deixaram por isso de ser reais: palácios à espera de quem neles entre para descobrir os seus tesouros. Hoje como ontem as bibliotecas são indispensáveis ao nosso enriquecimento. (...) Porque são as bibliotecas tão importantes? Porque são tão louváveis? Porque, tal como as escolas, são espaços de inclusão. São sítios onde se cresce intelectual, académica e profissionalmente. (...)"
14.03.2008, Carlos Fiolhais - Para ler no "Público, p. 49

quinta-feira, 13 de março de 2008

Nuno Crato premiado nos European Science Awards



O matemático e divulgador científico Nuno Crato foi ontem distinguido com um dos European Science Awards na área da comunicação da ciência, atribuídos pela Comissão Europeia, em Bruxelas. Na categoria de Melhor Comunicador do Ano, Nuno Crato ficou em segundo lugar, tendo o primeiro lugar sido atribuído ao astrofísico e escritor francês Jean-Pierre Luminet, especialista em buracos negros, do Observatório de Paris. É a primeira vez que um português é distinguido com este galardão, criado em 2004, e só com dois premiados naquela categoria.O gosto pela comunicação da ciência de Nuno Crato, de 56 anos, professor de Matemática no Instituto Superior de Economia e Gestão, em Lisboa, tem-se traduzido em livros e programas na televisão e na rádio. O júri do prémio destacou a colaboração de Nuno Crato no jornal Expresso (onde desde 1996 escreve artigos de divulgação científica), na Rádio Europa (com o programa diário Três Minutos de Ciência) e em programas de televisão (de que 4XCiência, na RTPN, é um exemplo). Como presidente da Sociedade Portuguesa de Matemática, tem promovido a Matemática entre os jovens, salientou ainda o júri. Da lista de livros de divulgação, editados pela Gradiva, fazem parte Passeio Aleatório - Pela Ciência do Dia-Dia, A Espiral Dourada, Trânsitos de Vénus, Zodíaco: Constelações e Mitos ou Eclipses. Na descrição do estilo adoptado na divulgação científica, o júri chamou--lhe a "abordagem Crato", com uma "escrita fácil de ler, mas informativa e cientificamente sólida". Abordagem Crato? "Achei imensa piada. Em português, parece ridículo, mas em inglês "it sounds great"", comentou. "É importante que a comunicação científica seja valorizada internacionalmente. Estou muito contente." Na área da comunicação da ciência, os European Science Awards têm ainda as categorias Escritor do Ano e de Documentário do Ano: atribuíram-se, respectivamente, a Delphine Grinberg, autora de livros com experiências para crianças, da Cidade das Ciências de La Villette, em Paris; e a Peter Leonard, da BBC, com um documentário sobre o Universo. Os European Science Awards distinguem ainda a investigação científica, com o Prémio Descartes (venceram trabalhos sobre o clima da Terra nos últimos 800 mil anos; a infecção pela bactéria Listeria; e motores do tamanho de moléculas) e com os Marie Currie para a Excelência (venceram projectos sobre o dinheiro e a felicidade; o cancro; a inflamação; nanotubos; e a energia escura do Universo).

- 13.03.2008, Teresa Firmino - In jornal "Público"

quarta-feira, 12 de março de 2008

"O LIVRO, ESSE GRANDE OBJECTO"

Um artigo publicado recentemente na edição em linha da BBC News, colocava a questão: “Ler livros torna-nos mais espertos?”, a propósito da iniciativa “Ano Nacional de Leitura” lançada a passada semana pelo Primeiro Ministro britânico.Pois é sobre livros que esta coluna trata neste número, mas nada de crítica literária, pois isso fica para quem sabe. Mas até (me) soa bem poder afirmar que os livros são parte fundamental na minha vida, o que é uma boa verdade. Apesar desta coluna se chamar “Geração Vinil”, esclareço desde já que não usa chinó, lentes grossas nem fatos mal amanhados, estereotipo estafado da figura de bibliotecária, também conhecida por “the shhh people” expressão engraçada pela qual são (ou foram) chamados estes técnicos do livro. Falo de livros enquanto objectos e não necessariamente de leitura. Como poderão imaginar, os processos de tratamento de que os livros são alvo, nada têm de romântico: uma secretária cheia de obras à espera de serem classificadas, catalogadas e cotadas não se compadece com os prazeres da leitura nem com obras primas literárias. Dito de outra forma, um livro do Philip Roth leva exactamente o mesmo tratamento que um livro de receitas de sushi. Pode parecer injusto, mas é assim.Estamos bem longe da ideia romântica da imagem da bibliotecária a namoriscar entre estantes de madeira, como Spencer Tracy e Katharine Hepburn no filme "Desk Set”, a loura Carole Lombard enroscada nos braços do Clark Gable em “No man of her own” ou uma Betty Davis destemida, no filme “Storm center” em pleno “mccarthismo”. Coisas de filmes a preto e branco, como os microfilmes.Porque uma bibliotecária, a cores e na vida real, rodeada de códices, obras de botânica, estampas, mapas, romances ou de bases de dados em linha, com cheiro a livros de tinta fresca ou amarelados do tempo, procura, acima de tudo, fazer chegar o seu trabalho junto dos leitores o mais breve possível. Em vez da fantasia das metáforas, da sintaxe apurada da obra e da beleza da escrita, o bibliotecário suspira por um índice bem construído que lhe há-de ser de grande utilidade quando tiver que a classificar.Para além dos livros que estão à nossa guarda, existem também aqueles que nos oferecem e não lemos, aqueles que vamos comprando e os nunca abrimos, aqueles que damos porque gostaríamos de os ler, aqueles que gostaríamos de ter e nunca compramos por serem caros, aqueles que começamos a ler duas, três vezes e nunca os acabamos, porque entretanto dois ou três outros vão entrando e têm os mesmo destino(1). Sem esquecer os livros que se compram com gula, por causa da capa, pelo retrato que lá está ou seduzidos pela badana, mesmo que o recheio seja, (e é tantas vezes) uma enorme desilusão. Como costuma dizer um amigo, com especial acerto, basta colocar as fotografias ou as imagens certas numa qualquer compilação de receitas de pudins em banho-maria para se tornar um estoiro de vendas.Para além do seu valor literário, patrimonial ou estético, pouco se fala do livro enquanto objecto. Por mim, parece-me bem que cada um fale do que conhece e “classifique” como sabe.



(1) "Se Numa Noite de Inverno Um Viajante", de Italo Calvino -


Maria Isabel Goulão
- In
Revista Atlântico, edição de Fevereiro

sexta-feira, 7 de março de 2008

A Fechar a Semana da Leitura...

«Sonho por vezes que, quando o dia do juízo chegar e os grandes conquistadores, advogados e estadistas vierem receber as suas recompensas – coroas, louros, nomes gravados indelevelmente em mármore imperecível -, o Todo-Poderoso se voltará para S. Pedro e dirá, não sem uma certa inveja, quando nos vir chegar com os nossos livros debaixo dos braços:
— Olhai, estes não precisam de recompensa. Nada temos para lhes dar. Eles amaram a leitura.»
(Virginia Woolf)

quinta-feira, 6 de março de 2008

A Biblioteca Escolar - o "coração da escola"

A BIBLIOTECA ESCOLAR

Num passado recente, a Biblioteca Escolar (BE) era um arquivo de livros e periódicos fechados à chave, cuidadosamente guardados, mais ou menos acessíveis aos utilizadores. Era também um local de silêncio absoluto, vetusto, monástico, vedado a quaisquer outras actividades que não fossem a leitura e a pesquisa de obras. A sua organização espacial e operacional, a sua estrutura hierárquica eram determinadas por um regimento ou regulamento interno rígidos, centralistas, estáticos e pouco favoráveis à mudança. O acesso era restrito quer em termos de horário de funcionamento quer de público, dos espaços e dos equipamentos, entre outros. A ênfase organizacional era colocada na gestão do acervo documental e o “trabalho” desenvolvia-se com base nos serviços prestados e nos recursos disponibilizados (livros e alguns periódicos exclusivamente ligados às matérias curriculares e aos conteúdos programáticos).

Do ponto de vista pedagógico-didáctico, não existia uma preocupação relevante nem uma articulação com as actividades da escola. Por outro lado, o pessoal raramente tinha uma formação especializada, sendo o Director da Biblioteca ou o Director das Instalações, conforme o caso, escolhido entre o quadro docente, normalmente nos grupos de Letras ou Humanidades e já em fim de carreira.

O acervo era determinado pelas escolhas dos Delegados de Grupo (pós-25 de Abril de 74) ou, mais recentemente, pelos Coordenadores de Departamento.

Actualmente, a gestão da BE, de qualquer biblioteca, está muito para além da gestão de fundos documentais: nela coexistem diversificados suportes de informação – CD de música, CD-ROM, DVD, livros, periódicos, acesso à Internet - que implicam outras formas de gerir espaços, relações, aprendizagens.

O Manifesto da IFLA para as BE, de 1999, estabeleceu um conceito mais moderno e actual baseado nas premissas de “competências para a aprendizagem”, articulados com os “manuais escolares e matérias e metodologias de ensino”. Há, portanto, neste conceito duas noções modernas: a “aprendizagem” e o “ensino”, supondo uma relação dinâmica, bidireccional e justaposta. A BE integra-se, pois, no Projecto Educativo da escola e assume um papel primordial, senão central, uma vez que é o espaço articulador das competências e lhe cabe promover o ensino-aprendizagem. À BE compete ainda munir os jovens das competências tecnológicas, de leitura, de manuseamento e partilha da informação, as quais constituem hoje condição incontornável na formação para a cidadania.

A fim de levar a termo este papel, a BE necessita de ser parceira do Projecto Educativo e do Projecto Curricular de Escola, devendo integrar-se transversalmente no Currículo e, por extensão, no Plano Anual de Actividades da Escola. Este papel, assim assumido, passa pela maior interacção entre a BE e o Conselho Executivo, o Conselho Pedagógico, os Departamentos, os Conselhos de Turma, os Docentes e a Comunidade Educativa em geral.

Deste modo, os objectivos enunciados no Manifesto da International Federation of Library Associations (IFLA) “essenciais ao desenvolvimento da literacia, das competências de informação”, que “ correspondem aos serviços básicos da biblioteca escolar”, podem ser materializados em actividades mais específicas, que envolvam toda a escola e, principalmente, os docentes, não descurando a gestão intermédia e a gestão de topo, assumindo-se como a porta de acesso ao vasto mundo da informação e do conhecimento.

Assim, tendo em conta os objectivos a alcançar e os planos a cumprir, configura-se, a título meramente exemplificativo, a colaboração da BE nas seguintes actividades:

-levantamento de oportunidades de colaboração com os departamentos, clubes, projectos, etc.;

-organização do apoio da BE nas Áreas de Projecto e Estudo Acompanhado;

-produção de materiais didácticos e de apoio (impressos, digitais, multimédia);

-análise da articulação da BE com os programas curriculares e projectos em curso, de modo a determinar as competências de informação que podem ser desenvolvidas na BE, na sala de aula ou noutros espaços escolares;

-cooperação no desenho e execução de um programa de fomento de competências de leitura e escrita;

-promoção da formação (tipologias diversas) dos docentes em competências de leitura e de informação;

-estímulo à formação autónoma na BE, sugerindo técnicas de investigação, de consulta e de trabalho quer individual quer cooperativo.

Aos docentes cabe também um papel importante na relação Escola/BE, uma vez que são simultaneamente actores e espectadores no palco que a BE também deve ser. A sua colaboração pode estender-se a outras actividades (a lista não é exaustiva) tão relevantes como: divulgar os recursos da BE junto dos alunos, de modo a promover a sus utilização autónoma; acompanhar os alunos à BE; participar na organização conjunta de actividades de leitura e animação pedagógica na BE; motivar os alunos para a frequência da BE; incluir a BE nas suas actividades curriculares e de complemento curricular; apoiar a BE no processo de recolha, selecção e tratamento da informação, …

A gestão intermédia e a de topo, na Escola, devem igualmente contribuir para o sucesso da BE, cabendo-lhes o papel de facilitadores em diferentes vertentes. A estes elementos estão reservadas competências como a criação de condições organizacionais da BE (gestão dos espaços, atribuição de horas e créditos horários), procedimentos administrativos (verbas, equipamentos, pessoal), a salvaguarda de uma utilização flexível e adequada da BE, a mobilização de apoios e recursos externos e, de importância relevante, a liderança e o apoio no envolvimento dos docentes, através de acções de informação, sensibilização e formação eventualmente centradas na própria biblioteca.

A BE é uma construção diária que deve envolver toda a escola.

José Caseiro – Coordenador da BE-CRE

UNESCO.IFLA. Manifesto da Biblioteca Escolar: a biblioteca escolar no contexto do ensino aprendizagem para todos. [Lisboa]: Ministério da Educação. Gabinete da Rede de Bibliotecas Escolares, cop. 2000.