quarta-feira, 13 de fevereiro de 2008

No passado 13 de Fevereiro de 1965


HUMBERTO DELGADO É ASSASSINADO PERTO DE BADAJÓS


-

Foi um dos crimes mais calculados e mais violentos da PIDE e do Estado Novo de Salazar: o assassínio de Humberto Delgado, que nesse ano de 1965 estava exilado no Brasil, a partir de onde tratava de tentar depor o regime que sete anos antes tinha viciado as eleições presidenciais que o "General sem Medo" havia vencido após uma campanha com uma adesão popular sem precedentes. A 13 de Fevereiro de 1965, Humberto Delgado caiu na cilada que lhe foi montada pela PIDE: aceitou reunir-se, em Badajoz, com um suposto coronel também oposicionista ao salazarismo, com o objectivo de prepararem ambos o derrube do ditador. Nesse dia, Delgado, 60 anos, chegava à cidade espanhola junto à fronteira portuguesa acompanhado da sua secretária brasileira, Arajaryr Campos, 34 anos. Ao final da manhã, envia dos correios de Badajoz quatro postais para outros tantos amigos em países diferentes e assinados com o nome de sua irmã Deolinda. Em linguagem cifrada, o general passava a mensagem de que estava vivo e que não tinha sido preso. Mas seria por poucas horas: ao princípio da tarde, Humberto Delgado aceita a sugestão que lhe é feita pelo seu interlocutor de que o encontro com o tal militar oposicionista, por razões de segurança, se faça junto à ribeira de Olivença. É o local da cilada: quando lá chega, vê-se cercado por quatro agentes da PIDE, chefiados por Rosa Casaco. Ao que tudo indica, apesar de as reais circunstâncias do assassinato estarem ainda envoltas em algum mistério, fruto de depoimentos contraditórios dos intervenientes, foi Casimiro Monteiro o autor dos disparos que vitimaram o "General sem Medo". A sua secretária teve o mesmo destino. Os corpos foram depois levados para outro lugar junto à fronteira, em Villanueva del Fresno. Até à descoberta dos cadáveres, em Abril desse ano, o salazarismo tentou fazer passar a mensagem, através dos jornais, de que a cilada a Delgado teria sido mesmo montada por uma das facções da oposição. Depois de Abril, Mário Soares foi um dos advogados que intervieram na investigação da morte. Delgado tornara-se mártir e um novo símbolo da resistência. O salazarismo caminhavapara o seu estertor.

S.C.A. - 13.02.2008 -´"Público", caderno P2

Sem comentários: