quarta-feira, 27 de fevereiro de 2013

É BURRO!


COSTUMES DO ALENTEJO - O Aguadeiro
Bilhete-postal ilustrado do inicio do séc. XX
(Edição de Alberto Malva - Lisboa)


Quando um estudante tem mau aproveitamento escolar, diz-se:

- É burro!

Quando um automobilista faz uma manobra perigosa, comenta-se:

- É burro!

Quando num jogo decisivo, o árbitro não vê uma grande penalidade, da assistência grita-se:

- É burro!

Quando o medico falha o diagnóstico e o doente morre, reputa-se:

- É burro!

Quando um sindicalista se deixa levar nas negociações, diz-se com desdém:

- É burro!

Quando o 1º ministro falha as politicas, clamam os do contra:

- É burro!

Entre nós quando se chama burro a alguém é para o ofender, pois o termo reúne em si a múltipla carga negativa de: pouco inteligente, estúpido, teimoso, ignorante e pouco criativo. Etimologicamente a palavra “burro”, provem do latim “burrus”, que quer dizer vermelho. Acredita-se que foi daí que surgiu a crença de que burros são pouco inteligentes, pois antigamente, os dicionários tinham capas vermelhas, dando a ideia de que os burros eram sedentos de saber.

Desde os tempos imemoriais, que nas comunidades rurais, os burros são utilizados como auxiliar das tarefas agrícolas e como animais de carga. Porém, o abandono das actividades agrícolas tradicionais, fez com que este animal doméstico se encontre à beira da extinção. Contra isso lutam associações regionalistas, um pouco por todo o país, o que naturalmente é merecedor de todo o nosso apoio e simpatia.

Como etnógrafos constatamos a abundante presença do burro na literatura oral: lendas, contos populares, cancioneiro, adivinhas e provérbios, o que só por si testemunha a importância do burro nas antigas comunidades rurais. Na impossibilidade, de abordar aqui todos aqueles domínios, cingir-nos-emos aos provérbios, que como é sabido, são um repositório de sabedoria popular. Eis o conjunto de provérbios portugueses sobre burros que nos foi possível coligir:

- A burro morto cevada ao rabo.

- A burro que muito anda, nunca falta quem no tanja.

- A burro velho, capim novo.

- A burro velho, pouco verde.

- À falta de um grito, morre um burro no atoleiro.

- A ferramenta é que ajuda, não é o pisco em cima da burra

- A gente não deve de ficar adiante do boi, nem atrás do burro, nem perto da mulher: nunca dá certo

- A gente, queira ou não queira, tem de ir de burro à feira.

- A julgar morreu um burro.

- A pensar morreu um burro.

- Albarda-se o burro à vontade do dono.

- Andar de cavalo para burro.

- Antes bom burro que ruim cavalo.

- Antes burro vivo que doutor morto.

- Antes burro vivo que letrado morto.

- Às vezes não se respeita o burro, mas a argola a que ele está amarrado.

- Burro com fome, cardos come.

- Burro grande, cavalo de pau.

- Burro que geme, carga não teme.

- Burro velho não aprende línguas.

- Burro velho não toma andadura e se toma pouco dura.

- Burro velho não toma andadura.

- Burro velho, albarda nova.

- Burro velho, mais vale matá-lo que ensiná-lo.

- Burro velho, não aprende línguas.

- Com a morte do asno não perde o lobo.

- Criado que faz o seu dever, orelhas de burro deve ter.

- Depois do burro morto, cevada ao rabo.

- Em Janeiro todo o burro é sendeiro.

- Em Maio deixa a mosca o boi e toma o asno.

- Filho de burro não pode ser cavalo.

- Jumento e filho de padre são poços de manha.

- Jumento, padre com manha, são poços de artimanha.

- Mais vale burro vivo do que sábio morto.

- Mulo ou mula, asno ou burra, rocim nunca.

- Não é mel para a boca do asno.

- Não é por grandes orelhas que o burro vai à feira.

- O boi conhece o dono e o jumento a manjedoura.

- O burro acredita em tudo o que lhe dizem.

- O burro adiante para que não se espante.

- O burro do meu vizinho só sabe o que lhe ensino.

- O burro não é tão burro como se pensa.

- Palavra de burro é coice.

- Quando o burro é jeitoso, qualquer albarda lhe fica bem.

- Quando um burro zurra, os outros abaixam as orelhas.

- Queira ou não queira, o burro há-de ir à feira.

- Quem come carne na véspera de Natal, ou é burro ou animal.

- Quem não pode, aluga um burro.

- Quem o asno gaba, tal filho lhe nasça.

- Quer queira quer não queira, o asno há-de ir à feira.

- Todo o burro come palha, é preciso é saber dar-lha.

- Todo o malandro é um burro de sorte.

- Um burro carregado de livros é um doutor.

- Um olho no burro, outro no cigano.

- Zurros de burro não chegam aos céus.

Tal como os burros que foram objecto do presente “post”, também a literatura oral precisa de ser preservada e divulgada, o que se faz transmitindo aos mais novos, as fontes de sabedoria dos nossos ancestrais.

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