COSTUMES DO ALENTEJO - O
Aguadeiro
Bilhete-postal ilustrado do inicio do
séc. XX
(Edição de
Alberto Malva - Lisboa)Quando um estudante tem mau aproveitamento escolar, diz-se:
- É
burro!
Quando um
automobilista faz uma manobra perigosa, comenta-se:
- É
burro!
Quando num jogo
decisivo, o árbitro não vê uma grande penalidade, da assistência
grita-se:
- É
burro!
Quando o medico
falha o diagnóstico e o doente morre, reputa-se:
- É
burro!
Quando um
sindicalista se deixa levar nas negociações, diz-se com desdém:
- É
burro!
Quando o 1º
ministro falha as politicas, clamam os do contra:
- É
burro!
Entre nós quando
se chama burro a alguém é para o ofender, pois o termo reúne em si a múltipla
carga negativa de: pouco inteligente, estúpido, teimoso, ignorante e pouco
criativo. Etimologicamente a palavra “burro”, provem do latim “burrus”,
que quer dizer vermelho. Acredita-se que foi daí que surgiu a crença de que
burros são pouco inteligentes, pois antigamente, os dicionários tinham capas
vermelhas, dando a ideia de que os burros eram sedentos de saber.
Desde os tempos
imemoriais, que nas comunidades rurais, os burros são utilizados como auxiliar
das tarefas agrícolas e como animais de carga. Porém, o abandono das actividades
agrícolas tradicionais, fez com que este animal doméstico se encontre à beira da
extinção. Contra isso lutam associações regionalistas, um pouco por todo o país,
o que naturalmente é merecedor de todo o nosso apoio e simpatia.
Como etnógrafos
constatamos a abundante presença do burro na literatura oral: lendas, contos
populares, cancioneiro, adivinhas e provérbios, o que só por si testemunha a
importância do burro nas antigas comunidades rurais. Na impossibilidade, de
abordar aqui todos aqueles domínios, cingir-nos-emos aos provérbios, que como é
sabido, são um repositório de sabedoria popular. Eis o conjunto de provérbios
portugueses sobre burros que nos foi possível coligir:
- A burro morto
cevada ao rabo.
- A burro que
muito anda, nunca falta quem no tanja.
- A burro velho,
capim novo.
- A burro velho,
pouco verde.
- À falta de um
grito, morre um burro no atoleiro.
- A ferramenta é
que ajuda, não é o pisco em cima da burra
- A gente não
deve de ficar adiante do boi, nem atrás do burro, nem perto da mulher: nunca dá
certo
- A gente, queira
ou não queira, tem de ir de burro à feira.
- A julgar morreu
um burro.
- A pensar morreu
um burro.
- Albarda-se o
burro à vontade do dono.
- Andar de cavalo
para burro.
- Antes bom burro
que ruim cavalo.
- Antes burro
vivo que doutor morto.
- Antes burro
vivo que letrado morto.
- Às vezes não se
respeita o burro, mas a argola a que ele está amarrado.
- Burro com fome,
cardos come.
- Burro grande,
cavalo de pau.
- Burro que geme,
carga não teme.
- Burro velho não
aprende línguas.
- Burro velho não
toma andadura e se toma pouco dura.
- Burro velho não
toma andadura.
- Burro velho,
albarda nova.
- Burro velho,
mais vale matá-lo que ensiná-lo.
- Burro velho,
não aprende línguas.
- Com a morte do
asno não perde o lobo.
- Criado que faz
o seu dever, orelhas de burro deve ter.
- Depois do burro
morto, cevada ao rabo.
- Em Janeiro todo
o burro é sendeiro.
- Em Maio deixa a
mosca o boi e toma o asno.
- Filho de burro
não pode ser cavalo.
- Jumento e filho
de padre são poços de manha.
- Jumento, padre
com manha, são poços de artimanha.
- Mais vale burro
vivo do que sábio morto.
- Mulo ou mula,
asno ou burra, rocim nunca.
- Não é mel para
a boca do asno.
- Não é por
grandes orelhas que o burro vai à feira.
- O boi conhece o
dono e o jumento a manjedoura.
- O burro
acredita em tudo o que lhe dizem.
- O burro adiante
para que não se espante.
- O burro do meu
vizinho só sabe o que lhe ensino.
- O burro não é
tão burro como se pensa.
- Palavra de
burro é coice.
- Quando o burro
é jeitoso, qualquer albarda lhe fica bem.
- Quando um burro
zurra, os outros abaixam as orelhas.
- Queira ou não
queira, o burro há-de ir à feira.
- Quem come carne
na véspera de Natal, ou é burro ou animal.
- Quem não pode,
aluga um burro.
- Quem o asno
gaba, tal filho lhe nasça.
- Quer queira
quer não queira, o asno há-de ir à feira.
- Todo o burro
come palha, é preciso é saber dar-lha.
- Todo o malandro
é um burro de sorte.
- Um burro
carregado de livros é um doutor.
- Um olho no
burro, outro no cigano.
- Zurros de burro
não chegam aos céus.
Tal como os
burros que foram objecto do presente “post”, também a literatura oral precisa de
ser preservada e divulgada, o que se faz transmitindo aos mais novos, as fontes
de sabedoria dos nossos ancestrais.
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