pela obra "Uma Viagem à Índia" (Caminho).
http://www.youtube.com/watch?v=ntelHo27u1o
«Uma Viagem à Índia», com consciência aguda da sua ficcionalidade, navega e vive entre os ecos de mil textos-objectos do nosso imaginário de leitores. Como todos os grandes livros, e este é um deles.
«A singular e provocante Viagem à Índia de Gonçalo M. Tavares não é, contudo, a epopeia desta espécie de terra de ninguém do sentido, em que o Ocidente se converteu, mas a travessia e o confronto, ao mesmo tempo intemerato e burlesco, desse caos, não para descobrir nele uma mítica porta de saída mais ilusória ainda que as já conhecidas, mas para encarar a sério o seu paradoxal enigma. É apenas, num travestimento sem precedentes do texto epopaico (Os Lusíadas, a seu modo também é já texto de decepção, por conta da realidade), uma viagem ao fim do nosso fabuloso presente como glosa interminável da existência como tédio de si mesma. Partindo como Gama de Lisboa, e diferindo o mais que pode e sabe, como Ulisses, não o regresso, mas o “fim” da Viagem, Bloom, o seu tão célebre e literário herói, não contemplará (como a humanidade inteira) a face de Deus ou as pegadas de Deus, que no espelho da Índia imaginava contemplar, mas não volverá o mesmo. Agora sabe o que já pressentia. Que não viajamos para nenhum paraíso. Que todas as viagens são sempre um regresso ao passado de onde nunca saímos.» (Eduardo Lourenço, no prefácio ao livro)
Críticas de imprensa
«Livro absolutamente inolvidável por mais anos que se viva. Ou, de outro modo, um livro para a eternidade.» (Miguel Real, JL)
«É um livro cheio de fantasmas, fantasmas dos Lusíadas, fantasmas do homem contemporâneo, uma viagem, uma anti-epopeia, e é um livro extraordinário. Estou convencido de que dentro de cem anos ainda haverá teses de doutoramento sobre passagens e fragmentos». (Vasco Graça Moura, TVI24)
«Trata-se, como sempre em Tavares de um texto inteligente, brilhante mesmo […]» (Pedro Mexia, Público)
quinta-feira, 30 de junho de 2011
quarta-feira, 29 de junho de 2011
terça-feira, 28 de junho de 2011
As bibliotecas escolares são essenciais
No novo contexto informacional em que vivemos, resultado do desenvolvimento das tecnologias e da Internet, em particular, é fundamental que a escola seja capaz de preparar jovens que, para além de um leque de conhecimentos, alguns axiais como a língua materna e a matemática, dominem um conjunto de competências complexas no que à informação diz respeito. Para responder a essa exigência, as bibliotecas escolares são um bem educativo e cultural essencial.
As formas clássicas de produção, conservação e circulação do saber, intimamente ligadas ao livro e ao impresso, estão a alterar-se profundamente. Crianças e jovens são cada vez mais marcados pelo acesso e uso precoce duma grande parafernália tecnológica - telemóveis, consolas de jogos, mp3, computadores, ipads... -, uma grande apetência por conteúdos audiovisuais e, sobretudo, pela Internet. No final da escola aguarda-os um mercado de trabalho caracterizado pela mudança, flexibilidade, necessidade constante de adaptação e de trabalhadores cada vez mais qualificados. Vão mudar de emprego várias vezes e vão ter de continuar a aprender ao longo da vida.
Quando todo o conhecimento de que necessitamos parece encontrar-se na Web, à distância e velocidade de um clique, as actividades de pesquisa e tratamento de informação tornaram-se mais complexas do que podíamos imaginar. E a geração que apelidamos de "nativos digitais" ou "geração google", apesar da destreza tecnológica, revela grandes fragilidades na procura e uso de conteúdos informativos relevantes e fiáveis, assim como na capacidade de os transformar em conhecimento. Quem é que hoje, no papel de professor ou de pai, não experienciou a frequência com que crianças e jovens se limitam a "googlar" um tema, aplicando a seguir o método do "copiar e colar" para produzirem o trabalho que lhes foi pedido?
Todo este cenário exige que a escola promova o ensino e aprendizagem de diferentes literacias, nomeadamente a literacia de informação, aqui entendida como o conjunto de competências que capacitam para o acesso, uso e aplicação eficaz da informação, em diferentes suportes, formatos e contextos. É este desafio recente, assim como o da leitura, nos tradicionais e nos novos ambientes, que torna as bibliotecas escolares tão necessárias. Vejamos.
Por mais que a tecnologia nos inunde, a leitura continua a ser uma aprendizagem primordial, condição de todas as outras. Aprende-se a ler, lendo, o livro continua a ser o suporte de eleição para essa aprendizagem, e a leitura, analógica ou digital, o instrumento de compreensão global. Nem todas as famílias têm condições para proporcionar livros e um ambiente leitor às suas crianças e jovens. As bibliotecas escolares são, pois, um ponto de acesso ao livro, a outros suportes e a actividades que estimulam o interesse e competências de leitura ao longo da escolaridade.
As bibliotecas escolares são igualmente um espaço de inclusão digital. Alguns programas do Ministério da Educação, o próprio embaratecimento da tecnologia, facilitaram a posse de computador pessoal. Em relação à Internet, considerando os dados do projecto Eukids Online, verificamos que só 78% das crianças e dos jovens portugueses entre 9 e 16 anos acedem à Internet. E cerca de um terço através das bibliotecas, tanto escolares como públicas.
Mas a inclusão digital não se resume ao acesso, pelo contrário, transfere-se cada vez mais, mesmo nos países mais desenvolvidos, para o problema do uso. Entendidas como espaços de aprendizagem, as bibliotecas escolares desempenham um papel fundamental na promoção de um uso seguro, criterioso, crítico e eficaz da informação. Em todos os agrupamentos de escolas e escolas secundárias têm sido o lugar por excelência onde estas questões são especificamente colocadas e trabalhadas com os professores bibliotecários, com todos os docentes já sensibilizados para o tema e, em especial, com os alunos. O Programa Rede de Bibliotecas Escolares tem sido decisivo no desenvolvimento destes espaços na escola.
por MARGARIDA TOSCANO, PROFESSORA E MEMBRO DO GABINETE DA REDE DE BIBLIOTECAS ECOLARES
Artigo Parcial em http://www.dn.pt/inicio/opiniao/interior.aspx?content_id=1890187&seccao=Convidados&page=-1
As formas clássicas de produção, conservação e circulação do saber, intimamente ligadas ao livro e ao impresso, estão a alterar-se profundamente. Crianças e jovens são cada vez mais marcados pelo acesso e uso precoce duma grande parafernália tecnológica - telemóveis, consolas de jogos, mp3, computadores, ipads... -, uma grande apetência por conteúdos audiovisuais e, sobretudo, pela Internet. No final da escola aguarda-os um mercado de trabalho caracterizado pela mudança, flexibilidade, necessidade constante de adaptação e de trabalhadores cada vez mais qualificados. Vão mudar de emprego várias vezes e vão ter de continuar a aprender ao longo da vida.
Quando todo o conhecimento de que necessitamos parece encontrar-se na Web, à distância e velocidade de um clique, as actividades de pesquisa e tratamento de informação tornaram-se mais complexas do que podíamos imaginar. E a geração que apelidamos de "nativos digitais" ou "geração google", apesar da destreza tecnológica, revela grandes fragilidades na procura e uso de conteúdos informativos relevantes e fiáveis, assim como na capacidade de os transformar em conhecimento. Quem é que hoje, no papel de professor ou de pai, não experienciou a frequência com que crianças e jovens se limitam a "googlar" um tema, aplicando a seguir o método do "copiar e colar" para produzirem o trabalho que lhes foi pedido?
Todo este cenário exige que a escola promova o ensino e aprendizagem de diferentes literacias, nomeadamente a literacia de informação, aqui entendida como o conjunto de competências que capacitam para o acesso, uso e aplicação eficaz da informação, em diferentes suportes, formatos e contextos. É este desafio recente, assim como o da leitura, nos tradicionais e nos novos ambientes, que torna as bibliotecas escolares tão necessárias. Vejamos.
Por mais que a tecnologia nos inunde, a leitura continua a ser uma aprendizagem primordial, condição de todas as outras. Aprende-se a ler, lendo, o livro continua a ser o suporte de eleição para essa aprendizagem, e a leitura, analógica ou digital, o instrumento de compreensão global. Nem todas as famílias têm condições para proporcionar livros e um ambiente leitor às suas crianças e jovens. As bibliotecas escolares são, pois, um ponto de acesso ao livro, a outros suportes e a actividades que estimulam o interesse e competências de leitura ao longo da escolaridade.
As bibliotecas escolares são igualmente um espaço de inclusão digital. Alguns programas do Ministério da Educação, o próprio embaratecimento da tecnologia, facilitaram a posse de computador pessoal. Em relação à Internet, considerando os dados do projecto Eukids Online, verificamos que só 78% das crianças e dos jovens portugueses entre 9 e 16 anos acedem à Internet. E cerca de um terço através das bibliotecas, tanto escolares como públicas.
Mas a inclusão digital não se resume ao acesso, pelo contrário, transfere-se cada vez mais, mesmo nos países mais desenvolvidos, para o problema do uso. Entendidas como espaços de aprendizagem, as bibliotecas escolares desempenham um papel fundamental na promoção de um uso seguro, criterioso, crítico e eficaz da informação. Em todos os agrupamentos de escolas e escolas secundárias têm sido o lugar por excelência onde estas questões são especificamente colocadas e trabalhadas com os professores bibliotecários, com todos os docentes já sensibilizados para o tema e, em especial, com os alunos. O Programa Rede de Bibliotecas Escolares tem sido decisivo no desenvolvimento destes espaços na escola.
por MARGARIDA TOSCANO, PROFESSORA E MEMBRO DO GABINETE DA REDE DE BIBLIOTECAS ECOLARES
Artigo Parcial em http://www.dn.pt/inicio/opiniao/interior.aspx?content_id=1890187&seccao=Convidados&page=-1
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domingo, 19 de junho de 2011
Uma Torre de Babel feita de livros *
Em Maio, a artista Marta Minujin (http://www.marta-minujin.com/exhibitions19.html) criou em Buenos Aires uma espantosa obra efémera: uma Torre de Babel de estrutura helicoidal, com uma altura equivalente a sete andares, coberta com 30 mil livros nas mais diversas línguas e dialectos, formando no seu todo uma grande «biblioteca multilinguística».
* IN http://bibliotecariodebabel.com/
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sábado, 18 de junho de 2011
"Mas não subiu para as estrelas, se à terra pertencia." *
Tu não serás as cinzas que Pilar vai depositar sob a oliveira (…), serás os milhares de páginas que escreveste (…) De resto, nós queremos que este momento seja alegre, que sejas seiva desta cidade (...)
Quanto a nós, enquanto formos vivos, recordar-te-emos sempre. Não temos outra eternidade para te dar (Lídia Jorge , "Palavras para Ti".
Numa primeira intervenção, o professor e cantor lírico Jorge Vaz de Carvalho leu um texto de Saramago sobre a cidade de Lisboa, intitulado "Palavras para Uma Cidade".
No Campo das Cebolas, em frente ao Tejo e à Casa dos Bicos ( futura sede da Fundação José Saramago), Pilar del Río colocou as cinzas junto às raízes da oliveira vinda da terra natal do escritor, escolhida pelo presidente da junta de freguesia da Azinhaga do Ribatejo, por ser aquela onde ele imaginava que pudesse estar o lagarto verde que Saramago descreve no seu livro As Pequenas Memórias.
Juntamente com um livro de textos sobre o Prémio Nobel 1998, as cinzas foram cobertas por terra de Lanzarote, colocada pelo presidente da Câmara Municipal de Lisboa no canteiro onde se encontra plantada a árvore, junto a um banco de mármore e ladeada de duas placas de pedra embutidas no chão, lendo-se na primeira, do lado esquerdo, José Saramago 1922-2010 e na outra a última frase do romance * "Memorial do Convento"
Quanto a nós, enquanto formos vivos, recordar-te-emos sempre. Não temos outra eternidade para te dar (Lídia Jorge , "Palavras para Ti".
Numa primeira intervenção, o professor e cantor lírico Jorge Vaz de Carvalho leu um texto de Saramago sobre a cidade de Lisboa, intitulado "Palavras para Uma Cidade".
No Campo das Cebolas, em frente ao Tejo e à Casa dos Bicos ( futura sede da Fundação José Saramago), Pilar del Río colocou as cinzas junto às raízes da oliveira vinda da terra natal do escritor, escolhida pelo presidente da junta de freguesia da Azinhaga do Ribatejo, por ser aquela onde ele imaginava que pudesse estar o lagarto verde que Saramago descreve no seu livro As Pequenas Memórias.
Juntamente com um livro de textos sobre o Prémio Nobel 1998, as cinzas foram cobertas por terra de Lanzarote, colocada pelo presidente da Câmara Municipal de Lisboa no canteiro onde se encontra plantada a árvore, junto a um banco de mármore e ladeada de duas placas de pedra embutidas no chão, lendo-se na primeira, do lado esquerdo, José Saramago 1922-2010 e na outra a última frase do romance * "Memorial do Convento"
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Catorze de Junho
Cerremos esta porta.
Devagar, devagar, as roupas caiam
Como de si mesmos se despiam deuses,
E nós o somos, por tão humanos sermos.
É quanto nos foi dado: nada.
Não digamos palavras, suspiremos apenas
Porque o tempo nos olha.
Alguém terá criado antes de ti o sol,
E a lua, e o cometa, o negro espaço,
As estrelas infinitas.
Se juntos, que faremos? O mundo seja,
Como um barco no mar, ou pão na mesa,
Ou rumoroso leito.
Não se afastou o tempo. Assiste e quer.
É já pergunta o seu olhar agudo
À primeira palavra que dizemos:
Tudo.
José Saramago, publicado por Fundação José Saramago em http://caderno.josesaramago.org/ - Poesía completa, Alfaguara, pp. 636-637
Devagar, devagar, as roupas caiam
Como de si mesmos se despiam deuses,
E nós o somos, por tão humanos sermos.
É quanto nos foi dado: nada.
Não digamos palavras, suspiremos apenas
Porque o tempo nos olha.
Alguém terá criado antes de ti o sol,
E a lua, e o cometa, o negro espaço,
As estrelas infinitas.
Se juntos, que faremos? O mundo seja,
Como um barco no mar, ou pão na mesa,
Ou rumoroso leito.
Não se afastou o tempo. Assiste e quer.
É já pergunta o seu olhar agudo
À primeira palavra que dizemos:
Tudo.
José Saramago, publicado por Fundação José Saramago em http://caderno.josesaramago.org/ - Poesía completa, Alfaguara, pp. 636-637
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quarta-feira, 15 de junho de 2011
"Um ano sem Saramago" (*)
A 18 de Junho, às 11 Horas, um ano depois da sua morte, as cinzas de José Saramago serão depositadas no Campo das Cebolas, diante da Casa dos Bicos,
frente ao rio Tejo, em Lisboa.
O Presidente da Câmara Municipal de Lisboa, a Junta de Freguesia de Azinhaga e a Fundação José Saramago convidam V. Exa. para um acto que não será de despedida porque há pessoas a quem não se pode dizer adeus.
No acto intervirão o professor e cantor lírico Jorge Vaz de Carvalho, que lerá Palavras para uma Cidade, de José Saramago, e a escritora Lídia Jorge. Actuará a Orquestra de Percussão Tocá Rufar.
O Presidente da Câmara Municipal de Lisboa António Costa encerrará a cerimónia.
IN http://www.josesaramago.org/
(*)Título de um texto publicado no suplemento Atual do jornal Expresso, de 04 de Junho de 2011
frente ao rio Tejo, em Lisboa.
O Presidente da Câmara Municipal de Lisboa, a Junta de Freguesia de Azinhaga e a Fundação José Saramago convidam V. Exa. para um acto que não será de despedida porque há pessoas a quem não se pode dizer adeus.
No acto intervirão o professor e cantor lírico Jorge Vaz de Carvalho, que lerá Palavras para uma Cidade, de José Saramago, e a escritora Lídia Jorge. Actuará a Orquestra de Percussão Tocá Rufar.
O Presidente da Câmara Municipal de Lisboa António Costa encerrará a cerimónia.
IN http://www.josesaramago.org/
(*)Título de um texto publicado no suplemento Atual do jornal Expresso, de 04 de Junho de 2011
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segunda-feira, 13 de junho de 2011
Fernando Pessoa no Google
Colocando hoje, na homepage, um doodle com o poeta Fernando Pessoa a escrever, o Google levou hoje a imagem e o nome do nosso maior poeta do século XX a centenas de milhares de pessoas em todo o Mundo.
Com o logotipo da Google por trás, aparece a imagem de Pessoa em primeiro plano, uma caneta, uma folha de papel, uma chávena de café e o número 2 da revista "Orpheu" - tal como no célebre retrato pintado por Almada Negreiros.
Fernando Pessoa nasceu, em Lisboa, no dia 13 de junho de 1888. Morreu, em Lisboa, no dia 30 de novembro de 1935. Faria hoje 123 anos.
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sexta-feira, 10 de junho de 2011
Em Dia de Camões, dois poemas do Prémio Camões/2011
A POESIA VAI
A poesia vai acabar, os poetas
vão ser colocados em lugares mais úteis.
Por exemplo, observadores de pássaros
(enquanto os pássaros não
acabarem). Esta certeza tive-a hoje ao
entrar numa repartição pública.
Um senhor míope atendia devagar
ao balcão; eu perguntei: «Que fez algum
poeta por este senhor?» E a pergunta
afligiu-me tanto por dentro e por
fora da cabeça que tive que voltar a ler
toda a poesia desde o princípio do mundo.
Uma pergunta numa cabeça.
– Como uma coroa de espinhos:
estão todos a ver onde o autor quer chegar? –
-------------------
NA BIBLIOTECA
O que não pode ser dito
guarda um silêncio
feito de primeiras palavras
diante do poema, que chega sempre demasiadamente tarde,
quando já a incerteza
e o medo se consomem
em metros alexandrinos.
Na biblioteca, em cada livro,
em cada página sobre si
recolhida, às horas mortas em que
a casa se recolheu também
virada para o lado de dentro,
as palavras dormem talvez,
sílaba a sílaba,
o sono cego que dormiram as coisas
antes da chegada dos deuses.
Aí, onde não alcançam nem o poeta
nem a leitura,
o poema está só.
‘E, incapaz de suportar sozinho a vida, canta.’
[in Poesia, Saudade da Prosa - uma antologia pessoal, Assírio & Alvim, 2011]
A poesia vai acabar, os poetas
vão ser colocados em lugares mais úteis.
Por exemplo, observadores de pássaros
(enquanto os pássaros não
acabarem). Esta certeza tive-a hoje ao
entrar numa repartição pública.
Um senhor míope atendia devagar
ao balcão; eu perguntei: «Que fez algum
poeta por este senhor?» E a pergunta
afligiu-me tanto por dentro e por
fora da cabeça que tive que voltar a ler
toda a poesia desde o princípio do mundo.
Uma pergunta numa cabeça.
– Como uma coroa de espinhos:
estão todos a ver onde o autor quer chegar? –
-------------------
NA BIBLIOTECA
O que não pode ser dito
guarda um silêncio
feito de primeiras palavras
diante do poema, que chega sempre demasiadamente tarde,
quando já a incerteza
e o medo se consomem
em metros alexandrinos.
Na biblioteca, em cada livro,
em cada página sobre si
recolhida, às horas mortas em que
a casa se recolheu também
virada para o lado de dentro,
as palavras dormem talvez,
sílaba a sílaba,
o sono cego que dormiram as coisas
antes da chegada dos deuses.
Aí, onde não alcançam nem o poeta
nem a leitura,
o poema está só.
‘E, incapaz de suportar sozinho a vida, canta.’
[in Poesia, Saudade da Prosa - uma antologia pessoal, Assírio & Alvim, 2011]
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quinta-feira, 9 de junho de 2011
PORTUGAL
Excerto do poema "Portugal", de Jorge Sousa Braga, dito por Miguel Borges.
http://vimeo.com/11921365
No mesmo sítio, há mais vídeos - e com óptimas interpretações.
http://vimeo.com/11921365
No mesmo sítio, há mais vídeos - e com óptimas interpretações.
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sexta-feira, 3 de junho de 2011
Prémio Pritzker 2011
Discurso do Arquitecto Souto Moura ao receber o Prémio Pritzker (2011)
Exmo. Sr. Presidente dos EUA, Presidente do Júri, elementos do Júri, meus Amigos, minhas Senhoras e meus Senhores,
Só quando recebi o convite dizendo “Eduardo Souto de Moura of Portugal” é que acreditei que tinha ganho o Pritzker 2011. Não posso esconder que fiquei feliz, por mim, pela minha família, colaboradores, amigos e clientes. Em nome de todos, os meus sinceros agradecimentos.
Aprendi a desenhar na Escola Italiana do Porto, cidade onde nasci, e no liceu decidi ser arquitecto. Não é que tivesse alguma paixão especial pela disciplina, mas na crise agnóstica dos 15 anos, duvidei se Deus devia ter descansado ao 7º dia. É que, pensando bem, ficou por fazer uma geografia como a de Delfos, a Acrópole para receber o Parténon ou secar um pântano no Illinois, onde a Farnsworth pudesse ficar.
Em 1975 depois da Revolução dos Cravos, comecei a trabalhar com o Arqº Siza Vieira. Não só pela arquitectura, mas sobretudo pela pessoa em si, foi uma experiência excepcional que ainda hoje continuo a fazer com o mesmo prazer. Saí do seu escritório nos anos 80, para ser arquitecto. Foi difícil começar, mas usar a sua “linguagem” parecia-me uma traição e mesmo que o quisesse, não o conseguia fazer, por pudor.
Depois da Revolução, e restabelecida a Democracia, abriu-se a oportunidade de redesenhar um país, onde faltavam escolas, hospitais, outros equipamentos, e sobretudo meio milhão de casas. Não era certamente o Pós-Modernismo, na altura em voga, que nos poderia resolver a questão. Construir meio milhão de casas, com frontões e colunas seria uma perda de energia, pois a ditadura já o tinha ensaiado. O Pós-Modernismo chegou a Portugal, sem quase termos passado pelo Movimento Moderno. É essa a ironia do nosso destino: “antes de o ser já o éramos”.
Do que precisávamos era de uma linguagem clara, simples e pragmática para reconstruir um país, uma cultura, e ninguém melhor que o proibido Movimento Moderno poderia responder a esse desafio. Não era só um problema ideológico, mas sobretudo de coerência entre material, sistema construtivo e linguagem. Se “arquitectura é a vontade de uma época traduzida num espaço”, Mies van der Rohe abriu-nos as portas na redefinição da disciplina tão massacrada até aí, pela linguística, semiótica, sociologia e outras ciências afins. O importante é que a arquitectura fosse “construção”, assim com urgência, nos pedia o país.
Com 10 séculos de História, Portugal encontra-se hoje numa grande crise social e económica, como já aconteceu em vários períodos anteriores. Hoje, como ontem, a solução para a arquitectura portuguesa é emigrar. Como dizia Paul Claudel: “Le Portugal est un pays en voyage, de temps en temps il touche l’Europe”. Resta-nos a “mudança”, como quer dizer a palavra “crise” em grego. Resta-nos decifrar o significado dos dois caracteres chineses que compõem a palavra “crise”: o primeiro significa “perigo”, o segundo “oportunidade”. Em África e noutras economias emergentes não nos faltarão oportunidades, o futuro é já aí. “Trabalhar na transmutação, na transformação, na metamorfose é obra própria nossa.” (1)
Muito obrigado.
Eduardo Souto de Moura
--------------------------------------------------
(1) Herberto Helder, “O Corpo. O Luxo, A Obra”
Exmo. Sr. Presidente dos EUA, Presidente do Júri, elementos do Júri, meus Amigos, minhas Senhoras e meus Senhores,
Só quando recebi o convite dizendo “Eduardo Souto de Moura of Portugal” é que acreditei que tinha ganho o Pritzker 2011. Não posso esconder que fiquei feliz, por mim, pela minha família, colaboradores, amigos e clientes. Em nome de todos, os meus sinceros agradecimentos.
Aprendi a desenhar na Escola Italiana do Porto, cidade onde nasci, e no liceu decidi ser arquitecto. Não é que tivesse alguma paixão especial pela disciplina, mas na crise agnóstica dos 15 anos, duvidei se Deus devia ter descansado ao 7º dia. É que, pensando bem, ficou por fazer uma geografia como a de Delfos, a Acrópole para receber o Parténon ou secar um pântano no Illinois, onde a Farnsworth pudesse ficar.
Em 1975 depois da Revolução dos Cravos, comecei a trabalhar com o Arqº Siza Vieira. Não só pela arquitectura, mas sobretudo pela pessoa em si, foi uma experiência excepcional que ainda hoje continuo a fazer com o mesmo prazer. Saí do seu escritório nos anos 80, para ser arquitecto. Foi difícil começar, mas usar a sua “linguagem” parecia-me uma traição e mesmo que o quisesse, não o conseguia fazer, por pudor.
Depois da Revolução, e restabelecida a Democracia, abriu-se a oportunidade de redesenhar um país, onde faltavam escolas, hospitais, outros equipamentos, e sobretudo meio milhão de casas. Não era certamente o Pós-Modernismo, na altura em voga, que nos poderia resolver a questão. Construir meio milhão de casas, com frontões e colunas seria uma perda de energia, pois a ditadura já o tinha ensaiado. O Pós-Modernismo chegou a Portugal, sem quase termos passado pelo Movimento Moderno. É essa a ironia do nosso destino: “antes de o ser já o éramos”.
Do que precisávamos era de uma linguagem clara, simples e pragmática para reconstruir um país, uma cultura, e ninguém melhor que o proibido Movimento Moderno poderia responder a esse desafio. Não era só um problema ideológico, mas sobretudo de coerência entre material, sistema construtivo e linguagem. Se “arquitectura é a vontade de uma época traduzida num espaço”, Mies van der Rohe abriu-nos as portas na redefinição da disciplina tão massacrada até aí, pela linguística, semiótica, sociologia e outras ciências afins. O importante é que a arquitectura fosse “construção”, assim com urgência, nos pedia o país.
Com 10 séculos de História, Portugal encontra-se hoje numa grande crise social e económica, como já aconteceu em vários períodos anteriores. Hoje, como ontem, a solução para a arquitectura portuguesa é emigrar. Como dizia Paul Claudel: “Le Portugal est un pays en voyage, de temps en temps il touche l’Europe”. Resta-nos a “mudança”, como quer dizer a palavra “crise” em grego. Resta-nos decifrar o significado dos dois caracteres chineses que compõem a palavra “crise”: o primeiro significa “perigo”, o segundo “oportunidade”. Em África e noutras economias emergentes não nos faltarão oportunidades, o futuro é já aí. “Trabalhar na transmutação, na transformação, na metamorfose é obra própria nossa.” (1)
Muito obrigado.
Eduardo Souto de Moura
--------------------------------------------------
(1) Herberto Helder, “O Corpo. O Luxo, A Obra”
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quarta-feira, 1 de junho de 2011
"Se estivermos atentos, todos os dias há matéria para histórias."
"A ficção é muito mais intensa que a vida"
Lídia Jorge, em entrevista ao "I" - 1/4/2011.
http://www.ionline.pt/conteudo/114485-lidia-jorge-a-ficcao-e-muito-mais-intensa-que-vida
"A Noite das Mulheres Cantoras" é o novo romance da autora algarvia que conta já com 30 anos de escrita.
Lídia Jorge, em entrevista ao "I" - 1/4/2011.
http://www.ionline.pt/conteudo/114485-lidia-jorge-a-ficcao-e-muito-mais-intensa-que-vida
"A Noite das Mulheres Cantoras" é o novo romance da autora algarvia que conta já com 30 anos de escrita.
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