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"Papel de 80 gramas, traduzido, paginado e revisto sem pressas, com todas as regras que o melhor profissionalismo editorial exige. Foi assim que fui feito, depois de ter nascido da mão de um escritor, eu e mais 3000 irmãos gémeos verdadeiros. Deram-me uma capa. Infelizmente não é dura, como as que se dão aos clássicos, mas é condigna e tem uma foto tratada em photoshop, linda, como se usa agora. Assinado por um autor premiado e com boas críticas, tudo devidamente destacado numa cinta de cor garrida. Com um título sugestivo, estou sentado – ou melhor deitado, porque um livro sozinho não se consegue sentar, a menos que peguem nele –, como dizia, estou deitado numa mesa central da livraria, ao lado de outros romances, alguns tão novos quanto eu, à espera. Dizem, os mais velhos, que sou um sortudo, que a maior parte deles vai sozinho para as prateleiras de canto, enquanto esperam, coitados, de pé. Mas eu tenho tudo para que me vejam, toquem, cheirem, abram e, de um impulso, me levem.
Sempre era uma mulher, mas não me levou, preferiu outro, um com uma flor na capa e dentes de vampiro. Não desespero, há-de aparecer alguém com mais bom gosto. Digo eu!...
Os meus pensamentos começam a ficar confusos, não sei se passou um dia, se passaram 15 dias ou meses. Seja como for, o tempo começa a esgotar-se. Senão aparecer ninguém rapidamente… Nem quero pensar nisso.
Finalmente, pegam em mim. Espera!... Eu conheço-o. É o livreiro que me pôs aqui, aquele que de vez em quando vem dar-me um jeito, virar-me com a cara para cima, porque me deixam desleixadamente de cara para baixo. Sejamos sinceros, quem é que gosta de estar de rabo virado para os outros?
Mas, o que...? Ele não veio para me virar para cima, porque assim já eu estou. Sei qual vai ser o meu destino. Já tinha ouvido rumores, contados com desprezo por aqueles que dizem ser de uma estirpe diferente, os livros de top. Todos achávamos que não passavam de rumores. Agora sei que é verdade, e está a acontecer comigo.
Fui levado numa caixa de cartão, juntamente com muitos outros indesejados da mesma editora, sem respeito, nem cuidados especiais, em monte, uns em cima dos outros, como se fossemos livros sem direitos e sem qualquer identidade. E agora é o fim, ingloriamente transformado em pasta de papel.
Eu tinha tudo, ouviram? Sou um livro de autor premiado..."
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Este texto, retirado do blogue abaixo indicado, no seu contexto ganha outra dimensão. Leia aqui o texto, mas visite o blogue... vale a pena!
http://livrariapodoslivros.blogspot.com/2009/11/sou-um-livro-de-autor-premiado.html