sábado, 4 de julho de 2009

LISBOA - Um miradouro para Sophia

Digo:
«Lisboa»
Quando atravesso – vinda do sul – o rio
E a cidade a que chego abre-se como se do seu nome nascesse
Abre-se e ergue-se em sua extensão nocturna
Em seu longo luzir de azul e rio
Em seu corpo amontoado de colinas –
Vejo-a melhor porque a digo
Tudo se mostra melhor porque digo
Tudo mostra melhor o seu estar e a sua carência
Porque digo
Lisboa com seu nome de ser e de não-ser
Com seus meandros de espanto insónia e lata
E seu secreto rebrilhar de coisa de teatro
Seu conivente sorrir de intriga e máscara
Enquanto o largo mar a Ocidente se dilata
Lisboa oscilando como uma grande barca
Lisboa cruelmente construída ao longo da sua própria ausência
Digo o nome da cidade
– Digo para ver


Sophia de Mello Breyner Andresen


Este poema está desde ontem numa placa, no miradouro da Graça que agora tem o nome da poetisa Sophia de Mello Breyner Andresen falecida há cinco anos.

Trata-se de parte de um projecto arquitectónico assinado por Gonçalo Ribeiro Telles (que já desenhara o jardim da casa de Sophia, na Travessa das Mónicas, ali perto).

Assistiram à homenagem familiares da escritora e vários amigos da família, membros da autarquia, escritores e editores, entre os quais Manuel Alegre, António Osório, Pilar del Río, Teresa Belo, Zeferino Coelho, Lídia Jorge, Inês Pedrosa, Jerónimo Pizarro, Maria Teresa Horta e um grupo de senhoras octogenárias, antigas vizinhas de Sophia.
Foi ainda inaugurado um busto de António Duarte, réplica de um original em bronze, esculpido nos anos 50. O rosto de Sophia olha de frente para a cidade «oscilando como uma grande barca», para o castelo, para o «corpo amontoado de colinas», para o rio ao fundo.

“Se tivesse sido membro da Academia Sueca, teria votado no nome de Sophia para Prémio Nobel em vez de Saramago” disse, não uma nem duas vezes, José Saramago, admirador de Sophia de Mello Breyner Andresen sobre quem escreveu também que havia alcançado como poeta a perfeição e a beleza da linha pura.



http://blogpt.josesaramago.org/2009/07/03/%c2%abao-olhar-sem-fim-o-sucessivo%c2%bb-homenagem-a-sophia/


http://bibliotecariodebabel.com/

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